Contextualizando geograficamente, a República do Iraque é uma nação que integra, com mais 16 países, a área transcontinental compreendida entre o Egito e a Ásia Ocidental denominada de Oriente Médio - descrita no mapa abaixo (SAWE, 2017). Dentre os países desta região, seis fazem fronteira com o Iraque, são eles: o Irã, o Quaite, a Arábia Saudita, a Jordânia, a Síria e a Turquia. De acordo com dados de 2019 do Banco Mundial (2020), a população daquele país é de mais de 39 milhões de pessoas.
O primeiro caso oficial de coronavírus foi detectado no dia 24 de fevereiro em um estudante iraniano que estava na cidade de Najaf, desde então os números têm aumentado e hoje o Iraque é o líder no número de casos no Oriente Médio (CHINA.ORG.CN, 2020; BBC NEWS, 2020). De acordo com o Relatório de Situação da Organização Mundial da Saúde (2020), em dados referentes a semana do dia 21 de setembro, a República do Iraque teve 28.819 novos casos de um total de mais de 315 mil casos de Covid-19 registrados. O número de óbitos no país, de acordo com o relatório, é de 8.491.
As primeiras medidas adotadas pelo país envolveram a tentativa de conter a entrada de pessoas portadoras do vírus, logo, do fim de fevereiro até o final do mês de março, o ministro da Saúde do Iraque, Hassan al-Tamimi, e o ex-ministro de Relações Exteriores, Mohamed Ali Alhakim, anunciaram uma série de restrições de entrada no país, permitindo apenas que embaixadores e pessoas iraquianas entrassem. A República Islâmica do Irã foi o primeiro país cujos cidadãos foram impedidos de entrar no Iraque (ABOULENEIN, 2020).
Conforme dados disponibilizados pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Iraque (2014), 97% da população iraquiana é muçulmana, portanto, com a chegada do novo coronavírus grandes eventos religiosos precisaram ser adaptados. Entretanto, no dia mais importante para os muçulmanos xiitas, o dia da Ashura, (que marca o martírio de Hussein, neto do profeta Maomé), milhares de fiéis foram para a cidade sagrada de Karbala, no sul do país, resultando, portanto, em um expressivo aumento no número de contaminações (BBC NEWS, 2011). De acordo com a Al Jazeera (2020), novas medidas, como a pulverização de desinfetantes, foram criadas na tentativa de conter o vírus entre aqueles que participavam do evento, entretanto, o Ministério da Saúde alertou que tais medidas não surtiram efeito.
Todos os anos de guerra pelos quais o país passou e que assolaram fortemente o Iraque hoje misturam-se à nova guerra contra um inimigo invisível. Soldados voluntários da Força de Mobilização Popular do Iraque, que antes combatiam os extremistas do autointitulado Estado Islâmico, hoje lutam contra o vírus. Até o mês de julho, os soldados paramilitares já haviam enterrado mais de 3 mil vítimas de Covid-19. De acordo com a organização Médicos Sem Fronteiras, devido à precariedade na infraestrutura dos hospitais, milhares de profissionais da saúde foram afetados pelo vírus, tanto que hoje os corpos são transportados pelos próprios familiares e depois são enterrados pelos soldados (BBC NEWS BRASIL, 2020). Isso soma-se a outros problemas, como diz o médico, Pedro Serrano Guajardo, “algumas pessoas [...] não percebem a gravidade da situação e não estão se prevenindo”. O médico alerta ainda para o fato de que as pessoas estão esperando muito tempo para ir para o hospital e estão indo só em último caso, o que diminui muito as chances de cura.
Jorge Willian Ferreira Gonçalves é técnico em Informática pelo Instituto Federal Goiano (2019) e atualmente cursa bacharelado em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Goiás. Seu interesse acadêmico gira em torno da ascensão da China e a crise hegemônica dos Estados Unidos, questões políticas do Leste-Europeu e Direitos Humanos.