A pandemia de COVID-19 (ou SARS-COV-2) foi assim classificada emergencialmente pelo órgão das Nações Unidas para a saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em março do corrente ano, criando aí um marco histórico e inédito na história contemporânea: quando o mundo, quase que unanimemente, parou em razão de um vírus da classe “coronavírus” de origem, ainda na data atual, desconhecida. Sem dúvidas um evento de tais proporções para futuras análises profundas de historiadores.
Porém, neste momento em que o fato é presente, cabe a uma série de outros profissionais analisarem variados aspectos desta pandemia, como, por exemplo, a análise de como os países e a sociedade internacional têm lidado com a situação complexa e nova para as gerações atuais sob os aspectos econômicos, políticos e sociais, que cabe ao internacionalista e outros estudiosos. Neste trabalho vamos analisar a situação particular da República Islâmica do Irã.
Os primeiros dois casos da doença COVID-19 reportados do Irã foram ainda em fevereiro, especificamente no dia 19 na cidade de Qom. No dia 28 deste mesmo mês, o país já contava, oficialmente, com 388 casos e 34 mortes. Neste mesmo dia foi oficialmente admitido que o ministro da saúde do país, Iraj Harirchi, tinha contraído o COVID-19, bem como a constatação por fontes estrangeiras que o Irã havia se tornado o novo epicentro da então epidemia.
Ainda no final de fevereiro, o presidente do Irã, Hassan Rouhani, declarava que não havia quaisquer planos em prol de um lockdown ou mesmo uma quarentena no país. Houve, no máximo, uma contra-indicação do governo de deslocamento até a cidade vizinha de Teerã.
No início de março, o Irã já contava com 8% do seu parlamento infectado e o aiatolá Ali Khamenei, o supremo líder do país, anunciou uma colaboração entre as forças armadas e os médicos do Irã em um esforço conjunto para desacelerar a velocidade da infecção. Ainda no início de março, a OMS classificou o Irã, junto da China, Itália, Coréia do Sul e outros países da Europa e Oriente Médio como um dos lugares com a pior explosão de casos.
Além das desconfianças de autoridades científicas e políticas estrangeiras quanto a transparência dos números iranianos, o site oficial dos Médicos sem Fronteiras publicou, no dia 27 de março, uma nota demonstrando surpresa e incompreensão diante da determinação do Ministro da Saúde do Irã em mandar a ONG embora e suspender a ajuda do MSF no país sob a alegação de que eles não precisariam mais de ajuda estrangeira. Outro acontecimento que ajudou a aumentar esta discussão sobre transparência se deu em agosto, quando o governo iraniano mandou fechar um periódico que publicou uma entrevista com um ex-membro da força-tarefa nacional contra o coronavírus, em que este ex-membro alega que os números tanto de casos, quanto de mortes divulgados oficialmente são apenas 5% dos números reais.
No dia 25 ainda do mês de março, conforme o número de casos subia, as autoridades iranianas decidiram por banir viagens internas no país alegando procurar evitar uma “segunda onda de infecções”.
A reação da população em relação à crise decorrida da pandemia de COVID-19 é notoriamente desesperada, uma vez que, em abril, foram reportadas 700 pessoas mortas em decorrência da ingestão de metanol tóxico, sob a falsa alegação de que o líquido curaria a doença. Houve também fugas e revoltas em massa nas prisões iranianas em razão do medo de contrair o vírus.
Outro aspecto a se considerar no combate ao coronavírus desempenhado pelo Irã é a tensão com os Estados Unidos que, desde antes da pandemia quando só havia casos na China em janeiro, vem ficando cada vez mais crescente. Um exemplo disso é a troca de acusações feitas em abril, em que o Irã culpou as sanções econômicas imputadas pelos EUA como a razão pela qual o país está sofrendo tanto com a pandemia.
Atualmente, existem oficialmente 110.776 casos de coronavírus e 6.733 mortes com 88.357 recuperados no Irã, com alta suspeita de falta de transparência na contagem da República Iraniana por parte de fontes estrangeiras. Contudo, mesmo que a infecção pareça estar desacelerando no país, a pandemia de coronavírus é algo que trará consequências a se lidar por muito mais tempo ainda.
Posteriormente, o governo do Irã tomou algumas outras medidas em relação à pandemia de COVID-19 que mostram suas consequências até o presente momento em Junho de 2020.
Segundo uma agência de notícias estatal da Turquia, em 2 de maio de 2020 o Irã via o menor número diário de mortos em 2 meses e, com esses dados, o governo preparava a permissão da reabertura de mais negócios privados e outros causadores de aglomerações mas, principalmente, de templos religiosos (especificamente mesquitas).
Contudo, o enfraquecimento das medidas de lockdown do governo iraniano talvez tenha sido feito cedo demais, uma vez que poucos dias após as autoridades anunciarem esse enfraquecimento, os casos diários e mortes por COVID-19 voltaram a subir, e, embora o governo continuasse clamando pelo distanciamento social da população, shoppings e outras áreas de convívio público passaram a ficar lotados.
Embora os casos estejam aumentando em junho, o presidente do país disse que, infelizmente, eles não podem forçar outro lockdown completo, uma vez que a economia do país iria tomar um dano sem precedentes com tudo fechado por mais alguns meses.
Sendo assim, por mais que no fim de maio o governo local tenha afirmado estar perto de controlar a pandemia, o Irã é agora o país em que existe o pior risco de ser o primeiro a passar por uma segunda onda de infecções. Este risco se mostra confirmado em outubro, uma vez que em 12 de outubro o país do Oriente Médio viu o maior número de casos em um dia desde o início da pandemia.
Segundo o Tehran Times, em 15 de julho o ministro da saúde do Irã anunciou que o país irá produzir remessas do remédio Remdesevir que, apesar de não ter sua eficiência contra o COVID-19 comprovada, é um dos remédios em teste de tratamento contra a doença pela OMS.
Letícia Martins Lima é graduanda do curso de Relações Internacionais pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e possui maior foco/interesse em Política Internacional e Diplomacia, embora as Relações Internacionais como um todo tenham muitos aspectos de seu interesse.