Sendo o país de origem do surto da Covid-19, especificamente na cidade de Wuhan (província de Hubei), a China teve um grande papel não só no que diz respeito à disseminação das primeiras informações sobre a doença como também no seu combate. Ela se destacou como um dos países com medidas mais bem sucedidas referentes ao controle da disseminação do novo coronavírus em seu território. Isso fez com que o país ganhasse notoriedade como exemplo de eficácia em medidas de contenção na OMS (Organização Mundial da Saúde). Nesse ínterim, cabe analisar como se deram essas ações nos âmbitos sanitário e econômico diante da pandemia que se instalou e infelizmente ainda faz muitas vítimas no cenário atual.
Primeiramente, segundo relatório publicado na OMS, as medidas sanitárias realizadas pela China tiveram como principal aliada a análise científica e obedeceram a um rigoroso planejamento de Estado gerenciado conforme a situação emergencial de cada área. As principais medidas podem ser enumeradas como: 1) fortalecimento dos portos de entrada, por meio do lançamento o plano de emergência de saúde pública; 2) realização de um monitoramento rigoroso da temperatura de entrada e saída dos passageiros; 3) o tratamento da doença pelo princípio de “Quatro Concentrações” de modo a minimizar a mortalidade de pacientes graves; 4) a investigação epidemiológica e gestão de contatos próximos por meio do rastreamento de infectados e seus contatos; 5) o distanciamento social em virtude da suspensão de aulas, eventos e atividades culturais; e por fim, o controle de tráfego e suspensão do transporte público nas áreas mais afetadas. Na esfera laboral, empresas e instituições organizaram em escalas o retorno ao trabalho.
Por outro lado, medidas econômicas também foram estabelecidas pelo Estado na tentativa de minimizar os prejuízos financeiros advindos da pandemia do novo coronavírus. Isso pode ser mencionado por meio do financiamento e apoio material ofertados, com o pagamento de seguros e medidas de compensação financeira, além do fornecimento de materiais de proteção individual. Acrescenta-se a isso o apoio material de emergência para empresas para a restauração da produção e a ênfase no empresariado local para expansão de importações, melhorando a importar materiais médicos e ampliando a capacidade de garantir suprimentos.
Outras medidas cabíveis de destaque configuram-se no estímulo monetário ofertado ao mercado manifestado na redução da taxa de empréstimo, financiamento facilitado para empresas de pequeno e médio porte bem como o aumento da cota de empréstimos. Cabe apontar também a importância do estímulo fiscal ofertado pela liberação de trilhões de iuanes com o objetivo de estimular a infraestrutura e em pequenas medidas fiscais como redução de tarifas de energia e redução de taxas.
Combater o novo vírus em pleno país de origem do surto não foi tarefa fácil para o Estado em questão. Segundo a coluna “As lições que Coreia do Sul e China pode dar ao mundo” do Jornal El País, as medidas chinesas só funcionaram devido ao senso de comunidade da população que fez alguns sacrifícios em termos de individualidade e liberdade em prol do chamado bem comum. O relatório da OMS aponta que “eles aceitaram e cumpriram uma série de medidas amargas, como a suspensão de reuniões públicas e o confinamento obrigatório”. Assim, as medidas de combate ao Covid-19 foram muito elogiadas pela OMS e apontadas como exemplo a ser seguido pelos demais países.
Passados três meses de surto, o governo da China declarou na quinta-feira (12) de março que o pico do surto do novo coronavírus acabou no país. Segundo o portal de notícias UOL, especialistas indicaram uma correlação entre as medidas restritivas adotadas pela China e o fim de transmissão local referente à contaminação por coronavírus. Isso se evidenciou tanto quanto fim do pico de contágio quanto pelo fato de novos casos terem origem externa, ou seja, serem importados. No entanto, após quase dois meses sem novos casos um novo surto de coronavírus foi registrado na cidade de Pequim, capital chinesa, sábado (13) de Junho. Isso foi verificado após uma grande quantidade de pessoas que visitaram o mercado de Xinfadi, no distrito de Fengtai, testarem positivo para a Covid-19. Após essa detecção, várias medidas para conter o avanço da doença foram tomadas pelas autoridades de Pequim a qual apresenta uma população estimada de 21 milhões de habitantes. Em 07 de Julho, Pequim já não registrava novos casos, controlando o surto com um total de 335 pessoas infectadas segundo o portal UOL. Estudos realizados pela Universidade de Hong Kong chegaram à conclusão de que o vírus teria sido importado após sua detecção em tábuas de cortar salmão vindas da Europa.
Contudo, o surgimento de novos casos na China não parou por aí, um novo surto de coronavírus foi registrado na sexta-feira (17) de Julho em Xinjiang, uma vasta região do Noroeste do país. Após essa detecção, a capital da região, Urumqi, entrou em “modo de guerra” e lançou um plano de resposta a emergência após a detecção de casos recentes. Novos testes estão sendo realizados na população local e foi ordenada a obrigatoriedade de testagem para pessoas que resolvessem deixar a cidade.
Apesar da preocupação com as medidas de contenção, instituições chinesas estiveram a todo o momento buscando desenvolver a criação de uma vacina que conferisse imunidade efetiva contra o novo coronavírus. Nesse ínterim, após ensaios clínicos bem sucedidos na fase 2 de testagem, quatro imunizantes chineses chegaram à última fase de testes. São eles: CanSino, Sinovac, Sinopharm do Instituto Biológico de Pequim e do Instituto Biológico de Wuhan. Segundo a chefe de biossegurança do Centro de Controle de Doenças e Prevenção do país, Wu Guizhen, os ensaios clínicos na fase 3 têm corrido bem e acrescentou que ela mesma tomou uma das vacinas em abril e não teve reações anormais. Ela só não disse qual imunização está mais adiantada no processo. Com isso, a China afirma que a expectativa é de que a vacina contra o novo coronavírus fique disponível em Novembro.
Suzan Vitória R. Souza é discente de Relações Internacionais pela Universidade Federal de Goiás, membro do projeto Política em um mundo em transformação, e possui interesse de estudo na área de Meio ambiente e Sociedade.