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Imagem: Conemat.IA
No Brasil, o debate sobre quem pode ou deseja ser reconhecido como negro ganhou força especialmente no século XXI, quando surgiram inúmeras denúncias de fraudes nas cotas raciais para o ingresso em universidades públicas. Essas denúncias expõem uma tensão antiga: de um lado, a autodeclaração feita pelos candidatos; de outro, a percepção social e coletiva — o que chamamos de heteroidentificação.
É fundamental entender que, no Brasil, o racismo não opera apenas pela ancestralidade, mas pelo que Oracy Nogueira (2007) definiu como "racismo de marca". Ou seja, o preconceito e a discriminação recaem sobre os corpos marcadamente negros, visíveis nos traços fenotípicos, e não apenas na origem familiar. Por isso, a autoidentificação não pode ser encarada como um direito isolado, dissociado da leitura social sobre quem somos.
As cotas raciais foram conquistadas pelo movimento negro como forma de combater desigualdades históricas e o racismo que estrutura nossa sociedade. Sendo que, na UEM,
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No entanto, ao longo dos anos, o debate sobre essas políticas foi sendo atravessado pela questão socioeconômica, muitas vezes deixando a dimensão racial em segundo plano.
Com isso, houve um enfraquecimento da percepção sobre quem realmente deveria ser o público beneficiário das cotas: pessoas negras, pretas e pardas, que vivem e experienciam o racismo cotidianamente. Como bem lembrou o Ministro do STF, Ricardo Lewandowski, a heteroidentificação não nega a autodeclaração, mas a complementa para que as políticas afirmativas cumpram seu papel social.
Na Universidade Estadual de Maringá (UEM), buscamos fortalecer a presença e a visibilidade de docentes negros e negras. O Mapeamento dos Professores Negros da UEM é uma iniciativa do NEIAB/UEM em parceria com o Hub Conemat que busca construir um Banco de Fontes Negras, capaz de evidenciar quem são esses profissionais dentro da nossa instituição.
Ao se autodeclarar negro ou negra, o professor ou professora não apenas reafirma sua identidade, mas também contribui para uma universidade mais justa, plural e atenta às desigualdades raciais. Essa ação ajuda a desconstruir a falsa ideia de que "somos todos iguais" em um país marcado por profundas desigualdades e discriminações.
Lá no final dos anos 1980, o movimento negro já dizia: "Não deixe sua cor passar em branco". Esse chamado permanece atual. Autodeclarar-se negro ou negra é se posicionar frente a um projeto de país que precisa reconhecer e valorizar sua diversidade racial.
Participe do Mapeamento dos Professores Negros da UEM
O formulário está disponível e seu preenchimento é essencial para a construção de políticas e ações afirmativas mais eficazes na universidade.