SÉCHU SENDE, os seus poemas nas súas mans
Séchu Sende,Escolma persoal
Odiseas (1998)
On the Road
Ti conduces, Cynthia, e eu fecho-lle os ollos
ao sol, á velocidade, á viaxe. Sei
que os abro para buscar algo no horizonte:
Nada. Entón entra-me no folgo ese vento,
ese aire do desexo das novelas, dalguns poemas
ou das películas porno, e miro-te de esguello.
Ti conduces, Cynthia, pero dás-te conta
e sabes o que vai suceder porque ti es sábia
e es como os animais. Buscas-me de esguello
coas tuas próprias detonacións de angústia
e dis: Agora imos facer História.
Case non reduces a velocidade e pasas a conducir
só coa man esquerda. Nos nosos cóbados,
unha sombra de luz aparece e desaparece,
o equilíbrio do mundo balancea-se.
…..
A néboa da Resignación
El mundo que queremos es uno
en donde quepan muchos mundos
(Subcomandante Marcos)
Todo o tempo do mundo para escreber
poemas: estou no paro, como todos
os meus colegas menos tres:
o que tivo sorte, a que emigrou
e o que levaba en segredo a sua
afiliación ao poder. Mido o tempo
coa velocidade das sombras
mentres espero e des espero e
des humana a vida e o tempo esgaza-me
o futuro, a búsola, os camiños,
o tendón, o trilce e o carpe diem
e afogo na néboa da Resignación.
Cómpre saír á rua, Galiza, e avanzar
en rio, a suma de esforzos humana vida todos.
…..
Perder-te no mercado das frutas en Shangai,
buscar-te na feira das flores en Santiago de Chile
e dar contigo no mercado dos paxaros en Trindade e
[Tobago
….
Eu de Lucia comezaba a estar un pouco namorado.
Ela tamén comezaba a amar-me.
Era asi.
Tamén me gostaba deitar-me con ela
pola forma violenta dos seus sis. Pero
un dia descubrin que entraba nos meus soños.
Foi o último dia. Esa mañá
dei cos seus ollos
mollados
deitando
tristeza
nos meus.
Falou:
Covarde,
non puideches evitar que me comese o tigre.
E a mediodia abandonou-me,
Lucia, a que entraba nos meus soños.
Made in Galiza (2007)
Eu nunca serei yo
….
Animais (2010)
Porque tinha paxaros
na cabeça
e bolboretas no estómago,
e lobos na gorja
e cavalos nos braços
e formigas nos pés
e ras nas costelas
e vacas nas pernas
e grilos nos ombros
e corzos nos olhos
e umha troita no coraçom...
nom podia permitir que instalassem
umha canteira no seu peito
nem muínhos eólicos
nos seus pulmons.
Por isso incendiou,
em defensa própria,
a máquina escavadora
que se achegava
ao seu coraçom.
…
A produçom social de sonhos
Cos pés na terra caminha a minha sombra.
Já sabes,
a realidade supera a fiçom.
Dizem que na Galiza podemos olhar a través da névoa
e que sabemos chamar o arco íris.
Nós fixemo-lo.
Falo contigo, e contigo
e saúdo a quem passe por este verso.
Na fonoteca do futuro guardo os sons dos sonhos:
as palavras, as exclamaçonns e o vento.
Era imposível imaginar o que está sucedendo,
digemos.
Era imposível imaginar isto,
diremos.
Nom sei, dizem que
talvez se cumpra umha parte proporcional dos nossos sonhos se os sonhamos juntos.
Necessitamos instruçonns para sonhar ao mesmo tempo,
umha convocatória para sonhar juntos á mesma hora,
um método para a produçom social de sonhos.
Se fabricamos cuitelos em cadeia
por que nom Liberdade?
É o seguinte passo na evoluçom da espécie.
E conseguiremo-lo
mirando-nos aos olhos.
...
Tatoos
Conheço um tipo
que leva um guindaste tatuado no corpo.
Nace-lhe no calcanhar direito
e a estrutura sobe pola perna,
as costas
-nas vértebras encaixa perfectamente-
até os ombros.
Quando ergue o braço direito
em ángulo recto
o braço longo do guindaste
extende-se como se fosse erguer um edifício
a cada passo.
Tamém conheço a sua filha.
Tem 16 anos
e tatuou no peito esquerdo
em pequeninho
um tojo em flor.
A República das Palavras (2015)
Quero-te
Escrevo Quero-te cem vezes hoje
cem vezes escrevo Quero-te porque te quero
e escrevo Quero-te porque te sinto dentro
e fora das palavras e no siléncio.
Na minha língua escrevo Quero-te
na tua língua, nossa.
Na palma de minha mao escrevo Quero-te
e escrevo Quero-te no teu ombro quando dormes
e Quero-tes pequenos nas etiquetas
da roupa que levas hoje.
E porque quando escrevo Quero-te já é passado
hoje escrevo tamém Quero-te no futuro,
e escrevo Quero-te com sprays nas ruas
polas que passas sempre ou nom passas nunca,
e escrevo Quero-te dentro da tua sombra
e dos teus zapatos e dos teus paxaros.
Escrevo Quero-te em código morse
com a ponta da língua onde me pidas
-.- . .-. —- – .
Um quero-te como um mamut de grande,
pequeno como umha constelaçom de sete letras,
longo como um arró entre dous vales
e, como a imperfecçom, perfecto.
Escrevo Quero-te na minha língua amante
que te lambe nos sonhos
que ás vezes se volvem realidade.
E escrevo Quero-te porque nom tenho medo,
e para cambiar o mundo escrevo Quero-te
Escrevo Quero-te nos lugares comuns
e nos segredos.
E escrevo Quero-che tamém
palatalmente.
Escrevo Quero-te no teu paráguas violeta,
e onde escrevo Quero-te nace o arco da velha.
Na lista da compra escrevo Quero-te
entre a palavra laranjas e a palavra tesoiras,
e escrevo Quero-te dentro dumha botelha.
Somos muita gente hoje
a escrever Quero-tes no país dos Quero-tes,
milheiros de Quero-tes na nossa língua
escritos na pel, nas árvores ou nas paredes,
Em cada Quero-te
que escreve alguém na minha língua
está o meu Quero-te
alá onde esteja.
E porque um Quero-te é umha palavra que brilha
escrevo Quero-te,
tamém eu com toda a gente
que hoje escrevemos
milhons de Quero-tes nas cinco mil línguas do planeta cada dia.
…..
- A ver, como fai a vaca?
- Muuu...
- E como fai o cão?
- Bau!, bau!
- Mui bem! E a ovelha... Como fai a ovelha?
- ...
- Sim, vamos... A ver, a ovelha. Como é que fai a ovelha? Recordas?
- Meee....
- Bem! Vês, mui bem, hoje lembraste como falam os animais, mamãe.
…
Falarás a nossa língua
Falarás a nossa língua
porque estamos contigo,
minha filha.
Falarás a nossa língua
e as tuas palavras formarão parte
da natureza.
Serão estrelas nos dentes,
vaga-lumes frágeis,
sementes de algo
que não conhecemos ainda.
Atravessarão o céu do teu paladar
os nomes dos pássaros,
crescerão os nomes das árvores
na raiz da tua língua
e um dia depois da tormenta
sairá das tuas palavras
o arco da velha.
E falarás a nossa língua.
Como nesse conto infantil
no que afinal consegues superar os obstáculos
e vencer os inimigos
que querem roubar-che as palavras,
falarás a nossa língua.
Falarás a nossa língua
e aprenderás a fazer lume
chocando duas palavras
contra o frio.
Contra a fame
falarás a nossa língua.
Falarás a nossa língua
e moverás a terra com as vibrações
das tuas cordas vocais
e aprenderás a mudar o mundo
como a mulher que mudava as cousas
de sítio.
Falarás a nossa língua
e quando as tuas palavras se sentirem soinhas
-por todo o que sabemos- procurarás
outras vozes como a tua.
Escuta
É mui emocionante.
Somos muita gente.
Acompanha-te o teu povo
e muitos outros povos como o nosso e
se o povo defende a língua
a língua protege o povo.
Adiante.
Falarás a nossa língua
e a música rebentará as tuas palavras
como estalitroques nos dedos, globos de cores,
coquetéis Molotov, bombas de palenque
no céu.
E falarás a nossa língua.
Recolherás as palavras que abandona alguma gente
no caminho
e ajudarás outra gente a recuperar
as palavras perdidas.
Falarás a nossa língua
com homens, mulheres, nenas e nenos
do teu tempo,
do passado e do futuro
Falarás com o vento.
Falarás a nossa língua.
Perguntarás que significam as palavras desconhecidas
porque gostas das aventuras, dos dragões,
dos caroços das maçãs,
dos vulcães em erupção, dos caracóis.
Falarás a nossa língua.
Dormirás com o pijama do ouriço-cacho
e um verso no peito
e sonharás que falas qualquer um
dos 6.000 idiomas do planeta.
Falarás a nossa língua
com palavras como casas,
como gavetas com colheres,
palavras como Pippi Langstrumpf a saltar
encima da cama entre moedas de ouro,
e algum dia abraçarás-nos com elas.
Falarás a nossa língua
e as tuas palavras abrirão
os caminhos da vida.
…
E isto é amor
Da tua mão direita
à minha mão esquerda,
um estendal de roupa
com molas de madeira
e isto é o amor
Erguemos os braços
e com a roupa ao vento
vamos caminhar
secar a roupa ao sol
e isto é amor
Entre fábricas baleiras
dentes de leão
e prados com bubelas
assobiamos esta canção
e isto é amor.
E no estendal levamos calças,
camisolas e cuecas violetas
e o teu sostém
e a minha camisa negra,
e isto é o amor.
E a gente olha para nós
e pensa que é um sonho
e pensa: Isto é amor,
e isto é amor.
Se fabricamos cuitelos em cadeia, por que nom Liberdade?
É o seguinte passo na evoluçom da espécie.
E conseguiremo-lo mirando-nos aos olhos.
Odiseas
I
A luz
A luz que me ilumina
e o ruído que deixan as illas
e unha muller
e ir a cabalo
e a humidade
e o meu país
e nos meus ollos só pon as mans
a muller que amo
como labrar a terra
e desde lonxe
pero desde moi adentro miña
un lume que me aquece
e falarmos de ter un fillo
e do último verán
e vir andando
e lavar-me nas fontes
e no tempo das lavandeiras brancas
e teño a idea
de lle dar a ela un caravel vermello
e ela vai e dá-me un bico
e o azor vén
a praia de Arnela comeza en ti
e agora
e a luz prendida
e o facho na man
para seguir buscando
que levar ao corazón
10
e un home andando un dia
e unha muller un lume
un vento un dia
a luz que alumea
mais aló
e adentro de todas as cousas
e vou na dirección das pradairas
de Irlanda
e estou con vós
e cos paxaros
e o azor vén
e penso en devorar-te
a ti
e desordenar as pedras
os cursos dos rios
que levas dentro
meu amor
as tuas águas
e fago un siléncio
porque escoito cantar
a homes e mulleres
nenas e nenos cantar
e saúdo-vos
e escoito o mar
e o nome do meu país
e vou e dou-lle un caravel vermello a ela
e ela dá-me un bico
e súa nai sorri na xanela
e leo un poema de Méndez Ferrin
e deito-me
e fago-che un lugar entre as sabas
e un lume é un lume
11
e a História todos os ceos
e deixar pasar
ir sentindo os rios da felicidade
entre os dedos
a luz
http://www.poesiagalega.org/uploads/media/sende_1998_odiseas.pdf
A SOMBRA DE ROSALIA
Di-se que quando morreu
a poeta Rosalia
a sua sombra separou-se
dela e desde aquel dia
vive entre nós como
umha sombra que tem vida.
Rosalia dixo-lhe á sombra
antes de fechar os olhos
para sempre, sonhando
o último dos seus sonhos:
- Vai, protege a nossa língua,
o idioma do meu povo.
Vai de aldeia em aldeia,
vai, vai de vila em vila,
de cidade em cidade,
sombra da minha vida,
defende dos inimigos
a vida da nossa língua.
Vai, minha sombrinha, vai,
da-lhe força á minha gente
para construír o idioma
cooperativamente,
com palavras insubmisas
como as dumha mulher valente.
E dixo-lhe Rosalia
á própria sombra dela
- Volve-te raíz, minha sombra,
caminha com os pés na terra
e entra nos sonhos do povo
para que sonhe com as estrelas.
E o dezaseis de julho
Rosalia foi para a tumba,
que em paz descanse,
e a sombra de sombra pura
ao pé dum arco da velha
começou a aventura.
Começou a sua viagem.
no cemitério de Adina,
na ribeirinha do Sar,
a sombra de Rosalia
e despois de tantos anos
segue entre nós aínda.
Desde aquela viaja
pola Galiza enteira.
Dizem que a sombra arrecende
a rosas, a laranxeiras,
a regatos e a fontes,
a terra, sol e figueiras.
Se nom a viches aínda
e a queres conhecer
sempre podes intenta-lo:
fecha os olhos para a ver.
É como qualquer sombra
e tem forma de mulher.
Tem umha saia de sombra
a sombra de Rosalia,
zapatos de escuridade
umha blusa ensombrecida
de todas as cores da sombra
na sombra da luz do dia.
A sombra de Rosalia
joga com as sombras das pombas
e sobre a sombra das nuves
a sombra ás vezes voa.
E quando chove leva
um paráguas de sombra.
Gosta da festa rachada,
das verbenas e os seráns,
dos festivais e concertos,
e dizem que a virom bailar
com o cantante de Zënzar
um agarrado e um vals.
A sombra de Rosalia
quando canta é feliz,
e dizem que, quando dormem,
canta-lhes cancións infantis
cheias de cores aos nenos
e nenas do nosso país.
Gosta de achegar-se aos berces
das crianças que estám a chorar
e recita-lhes poemas
que ninguém mais pode escoitar,
para aprenderem palavras
que nunca mais esquecerám
E desde aquela a sombra vai
viajando de sonho em sonho
das crianças que sempre falam
a língua do nosso povo
contando-lhes trabalínguas
lendas, cançons e contos.
A sombra de Rosalia
tamém entra nos sonhos
dos nenos que nom falam
galego ou o falam pouco.
E assi na almofada deixa
palavras como tesouros
para todos os nenos e nenas
que vivem no país nosso
escritas em papeis de cores:
estrela, ninho, abesouro,
bágoa, eu, papaventos,
vacaloura, mol e tojo.
A sombra de Rosalia,
nos teus sonhos, quando dormes,
di-che os nomes dos paxaros,
das árvores e das flores,
dos animais e da chuva,
das emoçons e das cores.
Sempre agasalha palavras
a sombra de Rosalia
lengalengas, poesias
cantareas, adivinhas,
cançons da nossa naçom,
livros na nossa língua.
E a sombra de Rosalia
entra nos sonhos dos pais
e das mais que falam pouco
galego aos filhos e vai
e di-lhes no ouvido:
- Tedes que falar-lho mais.
Aos pais que nom lhes aprendem
a língua aos nenos e ás nenas
a sombra de Rosalia
tira-lhes das orelhas.
Os galegos e galegas
falamos a língua da terra.
Ás vezes pode-se ver
a sombra de Rosalia
em qualquer momento
na rua, á luz do dia,
quando vas mercar pam
ou numha frutaria.
A sombra de Rosalia
hoje estivo com Inés
umha rapaza de Vigo
que vive no bairro de Teis
e hoje botou se a falar
galego por primeira vez.
A sombra da poeta di:
-A lingua é o meu fogar,
vivo nas vossas palavras
e vivo no vosso falar,
cada palabra é umha casa
que devemos cuidar.
Para mudar o futuro
fala-lhes galego sempre
aos nenos e nenas porque
o porvir depende deles
nom podes mudar o porvir
se nom cámbias o presente.
E os que nom falades aínda
a que estades esperando?
Caminhar é umha ventura
e o caminho fai-se andando
e a língua da Galiza
defendemo-la falando.
Falar é mui importante,
muito mais do que parece,
as palavras da Galiza
a Galiza enriquecem.
Se tu nom falas galego
o país se empobrece.
Há milheiros de persoas
a falar galego a diário,
homes, mulheres, nenos
que na rua, no trabalho
falamos como somos
e somos como falamos.
Escrevemos em galego
os nossos coraçons de amor,
falamo-lo no caminho
e nunca estamos sós,
porque a língua nos une e
da mao caminhamos melhor.
A sombra de Rosalia
é como foi Rosalia,
umha mulher rebelde
e luitadora que cria
que as palavras traem ao mundo
liberdade e justiça.
A sombra de Rosalia
em nós palavras acende
como estrelas na noite
ou faíscas que o lume prendem
e, como a nossa língua,
estará com nós por sempre.
Estará contigo sempre
a sombra de Rosalia
e irá contigo da mao
no caminho da tua vida
acompanhando os teus sonhos.
Viva o idioma!, viva a língua!
Séchu Sende es Xosé Luís González Sende, nacido en Padrón en 1972, es un escritor gallego.
Licenciado en Filología Gallego-Portuguesa, como socio-lingüista co-fundó la Cooperativa Tagen Ata, Lenguaje y Comunicación. En 2003 gana el Premio Blanco Amor con la novela Origen. Su libro de relatos cortos conjunto Hecho en Galicia ( 2007 ) recibió el premio a la Mejor Pareja Anxel Libro del Año, otorgado por la Asociación Galega de Editores y fue traducido a kurda y el editor turco por Avesta y la txalaparta vasca por el editor. Además, algunos de sus textos fueron traducidos al ruso, checo, croata, el bretón, el sardo, catalán y asturiano.
http://www.blogoteca.com/madeingaliza/
https://www.ivoox.com/made-in-galiza-sechu-sende-audios-mp3_rf_19323795_1.html