PEDRO GOMES

Spectrum 48k


O artista Pedro Gomes (Moçambique, 1972) apresenta na Galeria Presença a exposição intitulada Spectrum 48k, de 12 novembro de 2022 a 7 janeiro de 2023. Dando continuidade a dois eixos essenciais da sua prática artística – os limites do desenho e a perceção de imagens –, o artista questiona a qualidade, a proliferação e o consumo de imagens no quotidiano das sociedades contemporâneas ocidentais. Através da sobreposição de várias camadas de diversas tipologias de desenhos, é possível descobrir e/ou camuflar a realidade representada que, de um modo mais ou menos percetível – consoante a persistência do observador – vai aparecendo num desenho desfeito e construindo uma imagem indefinida.


Em 1982 a empresa inglesa Sinclair Research lança no mercado o influente, junto das gerações mais novas, microcomputador ZX Spectrum. Desenvolvido como plataforma de jogos, este computador de 8, 16, 48 e, posteriormente, de 128k, permitia gráficos de pouca definição e imagens estridentes mas, como pioneiros de uma realidade digital interativa, tornavam-se focos de atenção e de admiração de uma sociedade sedenta por atividades lúdicas e de lazer. É esta capacidade de inebriar e de encantar e nos escassos recursos gráficos, nomeadamente a baixa resolução das imagens que esta máquina primitiva gerava, que a analogia com a obra de Pedro Gomes faz sentido. Os desenhos têm a capacidade de se tornarem pontos chamativos do olhar que vagueia pelo espaço envolvente. A disciplina de desenho é aqui entendida como um mapear livre dos objetos e da realidade circundante, em que a incisão precisa parece não residir na marca riscada, mas sim na sua ausência, ou seja, no arrancar camadas de tinta e camadas do suporte de papel. Neste aparente movimento, entre as diversas imagens que se sobrepõem, em que a legibilidade do que se representa parece ser questionada e os limites do desenho expandem-se para zona de perceção nebulosas e duvidosas. É neste limbo ruidoso, entre a expansão e a imperceção, onde residem os desenhos do artista. As múltiplas imagens que deles advêm vão construindo e desconstruindo irrequietas imagens que transformam o olhar dos observadores. A dificuldade em fixar qualquer umas das imagens que se apresentam confunde e inebria aqueles que se dispõem à incerteza e à surpresa na descoberta das novas possibilidades da visão.


São apresentados nesta exposição um conjunto de desenhos inéditos, que fazem referência à situação pandémica recentemente vivida. Sem revelar o que representam, trata-se de um apontar ao presente, como forma de aportar as imagens à sua realidade. Mesmo que se tratem de representações rarefeitas, recorrendo a técnicas manuais e artesanais, as imagens estão ancoradas ao seu presente pela pertinência do objeto que representam, como se não quisessem escapar a ser observadas e apreendidas.


Hugo Dinis

Novembro 2022