A jornada, por mais nebulosa que seja, traça-se a cada passo. Em 1995, o Comercial Internet irrompeu na minha vida como um portal para um universo desconhecido. No entanto, as páginas do Roteiro Prático da Internet de José Magalhães descreviam um mundo que parecia inatingível, um reduto para os privilegiados e para os ermitões da tecnologia. Era um panorama digital descolorido, onde o e-mail, o gopher, o FTP e a intrincada teia de news se apresentavam em tons de cinza. Mesmo a World Wide Web, ainda em formação, era um território árido, salpicado apenas por tímidos links azuis. Recordo a instalação do Netscape, cujas restrições de exportação, ao detectarem a minha localização geográfica, me apresentaram um extenso rol de países – aqueles 'do outro lado da cortina de ferro' – cujos cidadãos não poderiam aceder ao software sem o risco de severas penalizações. Um quartel de século mais tarde, a inesperada maré da pandemia sanitária de 2020 varreu o globo. Em nome da sobrevivência profissional, aqueles outrora críticos ferrenhos da tecnologia resignaram-se e emergiram, surpreendentemente, como ávidos geeks.
A chegada do ChatGPT, disponibilizado pela OpenAI em 2021, trouxe uma nova Revolução ao ensino e à aprendizagem. De repente, a Inteligência Artificial (IA) tornou-se acessível a todos, redefinindo o panorama do conhecimento. Já tínhamos assistido à Revolução do Google, democratizando a busca por informação, o que, por vezes, resultou em alunos limitando-se ao copy/paste, desvalorizando o papel do professor e reduzindo a sua autoridade professoral a uma mera animação de aula. Agora, com a emergência de múltiplos modelos de IA cada vez mais capazes, como o NotebookLM, a própria substituição dos professores parece estar em jogo. Estas novas ferramentas propõem-se a ensinar tudo, funcionando como colegas de investigação impulsionados pela tecnologia. Aos que continuam a lecionar neste novo contexto, desejo sinceramente boa sorte. Por sorte, a minha jornada profissional já se concluiu.