incompetênciaemcausaprópria

Incompetência em causa própria

De todos os mistérios que caracterizam a crise bugrina, o que mais me deixa perplexo é o da evasão de sócios.

Como foi possível que mais de 20 mil sócios deixassem o clube sem que nada tenha sido feito para frear a debandada? Afinal, aquelas 20 mil pessoas não foram embora de supetão. Não houve uma debandada em desespero para se buscar abrigo na Arca de Noé diante de um dilúvio com data e hora marcadas. O pessoal foi saindo aos poucos – mês a mês, ano a ano. Em conta-gotas.

Qualquer estudante de segundo grau notaria uma curva descendente se colocado diante de um quadro com o número total de associados pagantes a cada mês ou ano. Ou com a receita mensal advinda das mensalidades. Ou o número de pessoas que passam pela portaria em direção às piscinas. Ou a despesa com papel higiênico nos banheiros das instalações sociais.

Não tem cabimento imaginar que os dirigentes do clube nesse período não fossem capazes de ler um gráfico. Ninguém sai da escola de segundo grau sem saber ler um gráfico. Sem saber notar uma tendência. Não é necessário estudar matemática superior, nem economia e administração, nem fazer MBA em Harvard para se ler um gráfico – para saber que há uma vaca a caminho do brejo. Não.

Admito que essa tendência pudesse ter passado despercebida pela torcida ou pela impressa. Mas certamente a direção do clube sabia o que se passava. É inimaginável que uma fonte de receitas tão importante se evaporasse debaixo das barbas da administração sem que soubesse disso. Eles sabiam, sim.

Então, por que nada se fez?

Minha tese é a de que nada se fez porque o encolhimento do quadro associativo era conveniente. Quanto menos sócios, melhor. O clube cuja existência interessava ser mantida não era o do conjunto de 100% das pessoas que pagavam para usar as instalações sociais e esportivas, mas o daquela parcela ínfima que, uma vez na direção, usava o Guarani como plataforma para negócios de compra e venda de jogadores de futebol. Para esta turminha, sócios demais só atrapalham. Dão trabalho. Cobram serviços e, principalmente, votam. Quanto menos eleitores, melhor. Maior é a probabilidade de a turminha se manter na foto por mais tempo.

Talvez essa turminha tenha se sentido segura ao imaginar que a evasão fosse indicador de que o único e real interesse da comunidade bugrina estivesse no bom desempenho do time em campo. Afinal, os usos e costumes mudam e é fato o encolhimento das grandes sociedades recreativas e esportivas em todo Brasil.

A conquista de mais um título nacional ou de um inédito Paulista ou mesmo a simples manutenção do Bugre nas categorias de elite do futebol brasileiro poderiam ter disfarçado a situação. Estaríamos em crise, mas estaríamos felizes. Pena que não foi assim. Foi bem pior.

E foi bem pior por que os dirigentes desse período trágico não souberam sequer administrar seus próprios interesses ao assumir o comando do clube. Mataram a galinha dos ovos de ouro. Eles são incompetentes inclusive em causa própria. (11/12/2007)

O futuro do Guarani – Álvaro Caropreso