Quais foram os anos bons e ruins para os preços do boi gordo? - Parte 2

Data de postagem: Feb 21, 2017 12:59:29 AM

Um querido leitor me mandou a seguinte indagação referente ao artigo "Quais foram os anos bons e ruins para os preços do boi gordo":

Rogério,

Você não acha que esse ano de fato é bem diferente da maioria, ou todos que já vivemos, dado o tamanho da crise interna que estamos vivendo, e faz sentido preços mais comprimidos (Mercado abaixo da média dos piores anos)?

Ou você acredita mais que o mercado está sobre vendido e você acredita mais em uma recuperação?

Excelente colocação.

Deixe-me tentar expor as coisas do que vejo.

Longe de estar com a razão, por favor, a gente aqui acompanha esse tipo de sequenciamento de bons/médios/ruins há um pouco mais de vinte anos, então vai-se com o passar do tempo se formando uma ideia, fazendo conexões imprecisas na cabeça, insights... porém aos trancos e barrancos o limitado conhecimento que puxamos disso nos tem sido suficientemente para os negócios no decorrer dos anos.

Daí vou dividir com vocês o que aprendi na base da tentativa e erro analisando essas coisas.

1ª coisa -- No curto prazo temos a tal crise.

Se a 'crise' de alguma forma desemboca nos preços da arroba do boi... Se a 'variação' nos preços do boi pode ser usada para medir o tamanho de uma crise... então essa atual está sendo de fato forte.

São três anos 2015/16/17 com um desempenho nos preços dentro do ano ruins.

Está sendo a PIOR sequência de anos ruins desde o início do plano real?

Não.

Tivemos uma sequência de quatro anos, 2003/04/05/06, como recorde negativo até aqui.

Resumo: A coisa está "braba", mas até aqui já vimos coisa pior.

Isso não significa que não possa piorar, mas vamos continuar o texto.

2ª coisa -- Quanto maior a pressão para baixo, maior (em dobro) a pressão para cima.

Ocasiões em que a arroba do boi é pressionada para baixo ou fica por bastante tempo perto das médias dos 'piores anos' ou até mais baixo que isso, na sequência do ano seguinte ou até mesmo dentro do ano a gente vê uma explosão de preços para cima.

Isso se deve a três motivos.

O primeiro é a Inflação, pois a carne é um produto que acompanha o ganho médio da população.

O segundo é a Demanda. São necessários em média entre 400 e 500 mil animais sendo abatidos todos os anos A MAIS simplesmente para tentar manter o consumo estabilizado por habitante.

O terceiro são os Custos do estoque preexistente. Não influencia muito agora o boi magro ou o bezerro estar barato.

O grosso da oferta de gado gordo já foi comprada há três, dois, um ano atrás, caro leitor. Esse gado hoje que está desaguando nos currais dos frigoríficos possui um custo de produção extremamente próximo aos preços de venda praticados atualmente. Na casa dos 130/140 reais por arroba é seguro colocar esses custos.

Na história quando isso ocorreu foi sinal de mudanças de mercado.

Resumo: Quando a gente junta isso tudo, como em 2017, há pressão para baixo você gera automaticamente uma pressão maior anda para cima no decorrer do tempo.

2º semestre desse ano? 2018? Não sei. Só sei que a oportunidade que se apresenta em 2017 para "compra", seja de boi gordo pelos frigoríficos ou de boi magro, bezerro pelos invernistas não é de se jogar fora.

3ª coisa -- Aqui é importante notar que a crise está acontecendo e contida dentro dos movimentos pendulares e cíclicos da dinâmica do ciclo pecuário (ele outra vez!).

Tivemos sorte. A 'crise' pegou a pecuária na sua fase de retenção de matrizes a partir do final de 2013.

Isso é importante. Para dar um prognóstico e entender para onde andará o mercado é necessário enxergar para o que acontece com as fêmeas.

Para "derrubar" o boi, é necessário paralelamente o abate de fêmeas estar em alta.

O abate de fêmeas está em alta? Nas leituras de curto prazo sim. Porém é necessário tomar isso com uma pitada de sal e colocar isso em contexto. Nas leituras dos anos anteriores em que tivemos uma decorrência parecida na fase atual do ciclo pecuário também acontecia exatamente assim da oferta aparecer grande.

Isso é preocupante?

SIM, é preocupante porque a tendência da cria mudou. Passou de segurar o máximo possível de fêmeas nos pastos para começar a vender as fêmeas e enxugar o estoque. Quando isso ocorre, esse movimento fica ativo por muito tempo.

NÃO, não é preocupante aqui porque é necessária MUITA, mas muita oferta de fêmeas consistentemente aumentando por vários anos para mudar o transatlântico pecuário de curso.

Ele irá mudar, sim, mas como exemplo, da última vez que tivemos uma diminuição na retenção de fêmeas para inversão ao abate nos padrões do atual movimento, em 2008, a "oferta" de fêmeas demorou cinco anos, de 2008 até 2013, para refletir negativamente nos preços dos machos.

Resumo: "Quem manda no boi é a vaca".

Esse ponto é tão importante que merece uma explicação melhor.

Veja o gráfico abaixo, por gentileza.

Existe um descarte natural zootécnico de fêmeas. E existe um descarte "econômico" delas, onde a variação ano-a-ano nesse descarte influencia os preços da pecuária em função no aumento de carne de fêmeas no mercado.

Achei o número de +10% de aumento nos abates como a virada entre descarte/retenção.

Retenção (pouca oferta de fêmeas, abates < +10%) é sinal de aumento forte nos preços dos machos.

Abate (muita oferta de fêmeas, abates > +10%) é sinal de aumento suave/queda nos preços dos machos.

Hoje o abate anualizado está em -9%, então temos um longo caminho até isso impactar nos preços dos machos.

Nos períodos de abates de fêmeas a arroba do boi gordo oscilou, respectivamente, +3%, -15% e +20%.

Nos períodos de retenção de fêmeas as oscilações foram +46%, +36%, +101% e +32% (essa última, menor em relação as anteriores, aí sim, creio, impactada até aqui pela tal 'crise').

A pergunta que se deve fazer é: a crise continuará?

Não creio.

Já há sinais bem fortes de mudança de rumo já aqui em 2017 e também para frente, acumulando-se melhorias que impactarão no humor e na renda das pessoas aos poucos.

Esse "aos poucos" daí já estamos falando um pouco mais já 2018, nítido em 2019 e evidente em 2020, certo?

Olha só, se o Brasil estiver "bem" lá, de novo, a pecuária vai dar sorte.

Iremos estar em plena oferta de fêmeas para abate com um mercado consumidor ávido para consumi-las.

É uma boa noticia, não?

O que você acha?