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BAILAM AS FOLHAS DOS ACERES NO CANADÁ

© Ernesto Matos

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As folhas dos aceres bailam soltas por aqui, no Quebec. Dos seus altos ramos indicam-me o norte e as montanhas que as separam dos glaciares. Deixam-nos agora as tonalidades de um entardecer de maturidade, da sabedoria, de quem sabe como foi viver o tempo que passou, por estas asas tombadas. E tão belas, tão puras e leves que se tornam agora! Apetece-me dizer-lhes Adeus, com beijos e ternura, com afetos de as ter amado numa vida já passada, nessas mesmas sementes que também já partilhamos ambos desde o princípio do desígnio.

As folhas dançam quando passo e cobrem-me o andar de amarelos dourados tapetes, como grinaldas colocadas nas portas na época do Natal. A fria neve de nuvens pérola, ameaça no horizonte e no tilintar dos meus dedos. Não, não é ainda dezembro nem é Natal, mas está frio para o meu corpo despido que ainda carrega no sangue o calor da areia das praias do outro lado das margens do oceano.

Ao longo destes dias vou atravessando as ruas, como de ilha em ilha, nesses passeios de fachadas envidraçadas a multicolores vitrais e murais e onde me cruzo com rostos espelhados que se refletem de todos os ângulos, como Saturno que se aventurou até estas coordenadas vindo de um espaço para lá de um céu distante que desaguou neste rio que também me acolheu.

As folhas dos aceres imigram por aqui, no mesmo local onde irão renascer, resplandecentes, no meio desta ilha serpenteada por um abraço fraterno de São Lourenço, que me acarinha nesta aventura, neste carrossel em que viajo envolvido numa espiral, que designo de universo! Je me souviens.



Pernoito na Saint Urban embebido pelos sonhos da Saint Laurent, nesta rua longitudinal entre o mesmo braço de um afluente, onde os raios de sol nos brindam logo pela manhã como de janelas abertas, como de olhos cintilantes a conquistarem o mundo, com os néctares de um banquete, dignos de Zeus, dignos de Apolo no cimo do Olimpo...

As folhas bailam por aqui, no mesmo local onde irão nascer, resplandecentes, no meio desta ilha serpenteada por um abraço de São Lourenço. Je me souviens. EM