ACNUR | PALAVRA ABERTA

O combate à desinformação e o jornalismo humanitário


Módulo para a Cátedra de Jornalismo Humanitário
Out/Nov 2022 - Belo Horizonte | Boa Vista

As fake news são um problema urgente a ser combatido, pois sua disseminação impacta nosso direito à informação de qualidade. Entendemos, porém, que o enfrentamento à desinformação e suas consequências, especialmente sobre grupos mais vulneráveis e/ou sub representados, requer muito mais do que a checagem de informações. É preciso também um olhar atento para as violações de direitos humanos e injustiças sistêmicas que podem resultar de representações estereotipadas ou preconceituosas nas mídias, para o impacto de discursos de ódio ou até de ausências de certas vozes. Neste módulo exploraremos a importância da educação midiática para produtores e consumidores de informação, bem como o papel do jornalismo no combate a desigualdades e injustiças sistêmicas, sobretudo no contexto dos refugiados.


Introdução

Educação midiática e populações vulneráveis

A digitalização da sociedade e a democratização das tecnologias de produção e circulação de informações nos oferecem uma oportunidade sem precedentes de acessar conteúdos sobre qualquer tema e dar espaço a vozes diversas. Por outro lado, os desafios à construção do conhecimento são imensos. A profusão de autores nos ambientes digitais, agindo com propósitos diversos, nos expõe a desinformação, boatos, informação enviesada ou fabricada, mensagens com propósito de manipular, convencer ou vender, discurso de ódio, preconceito e tantos outros obstáculos. Os algoritmos personalizam o que vamos receber, oferecendo recortes da realidade que podem direcionar comportamentos. Para além da falta de acesso, o desconhecimento das linguagens e ambientes digitais exclui grupos inteiros da possibilidade de avaliar informações ou construir suas próprias narrativas.

É nosso direito fundamental acessar informações confiáveis e de qualidade, de modo que possamos aprender e tomar decisões que impactam nossa vida pública e privada, e também participar das conversas e decisões da sociedade. Para isso, não basta apenas garantir o acesso à internet; é preciso apoiar o desenvolvimento de habilidades que nos assegurem um uso fortalecedor do ambiente informacional, bem como a possibilidade de participação positiva e auto expressão ética. Essa é a proposta da educação midiática.

Ao reconhecermos a educação midiática e informacional como pilar da inclusão e da justiça social, podemos perceber sua importância para as populações sujeitas ao deslocamento forçado. Além da vulnerabilidade social e econômica, esses grupos enfrentam também o desafio de preconceitos, xenofobia e racismo, que dificultam sua chegada e sua integração aos países que os acolhem. O problema não se resume a informações falsas. Muito além das chamadas “fake news”, a desinformação manifesta-se também em conteúdo tendencioso, em linguagem excludente ou preconceituosa, e até mesmo pela omissão de pontos de vista. No extremo, essas populações podem ser vítimas de mensagens manipuladoras (o chamado “discurso de ódio”), que ferem os limites da liberdade de expressão e os sujeitam à animosidade da população e a consequentes abusos econômicos, psicológicos e físicos.

A educação midiática forma um novo tipo de leitor, mais atento às nuances das informações que circulam em nossa sociedade, e da complexidade do ambiente informacional – aí incluída uma reflexão sobre os impactos das próprias tecnologias de comunicação, e não apenas de seu conteúdo. Da mesma forma, prepara também o produtor de conteúdo, jornalista ou não, para avaliar melhor a confiabilidade das informações que retransmite e ponderar como as suas escolhas narrativas (incluindo escolha de fontes, palavras ou mesmo imagens) podem alimentar preconceito, xenofobia ou injustiças. Esse olhar mais atento para a complexidade dos discursos e ambientes midiáticos é essencial para o jornalismo humanitário, cuja missão é alertar o mundo para desigualdades sistêmicas.

[AGENDA]


Equipe docente

Mariana Ochs

Designer, jornalista e especialista em tecnologias na educação. É coordenadora do EducaMídia, o programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta. É graduada em Comunicação Social / Jornalismo pelo Centro Universitário da Cidade (RJ), com especialização em Design Gráfico pela Parsons School of Design em Nova York e pós-graduação em Letramento Digital pela Universidade de Rhode Island (EUA), onde colabora, como docente, do Summer Institute in Digital Literacy. Depois de atuar internacionalmente como diretora de arte de revistas e jornais, tornou-se Google Innovator e Trainer, com experiência na transformação digital de escolas e no uso de ferramentas digitais na educação. É co-autora do Guia da Educação Midiática, publicado pelo Instituto Palavra Aberta em 2020, e diversas outras publicações. Foi embaixadora da ONG Chicas Poderosas, que atua na inclusão de mulheres no jornalismo digital e pautas femininas e de direitos humanos no jornalismo investigativo.

Bruno Ferreira


Jornalista e professor, é assessor pedagógico do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta, dedicando-se à criação de conteúdos e estratégias educativas. É Mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e especialista em Educomunicação pela mesma instituição. Possui licenciatura em Educação Profissional de Nível Médio, pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP). É formador de professores do Núcleo de Educomunicação, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Foi professor de Comunicação e Desenvolvimento Social no Senac São Paulo e consultor da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Atualmente, exerce voluntariamente o cargo de vice-presidente da Viração Educomunicação. É autor do livro Jornalismo e educação - competências necessárias à prática educomunicativa, pela editora Appris.

Saula Ramos

Gerente de projetos, é formada em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda com MBA em marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing - ESPM/SP. Com 20 anos de experiência atuando em grandes empresas e agências de comunicação, está no Instituto Palavra Aberta desde 2018 fazendo a gestão de parcerias e projetos com diversas entidades, dentre elas Governos Estaduais e Municipais de Educação, Organizações da Sociedade Civil e Universidades. Em 2019, participou do programa intensivo de 42 horas - Summer Institute in Digital Literacy - pela Universidade de Rhode Island (EUA), cujo o projeto de conclusão de curso refletia sobre práticas que visam capacitar a sociedade sobre educação midiática e digital, justiça social e democracia.



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