Blog

"Famílias No Bully"

Bem-vindo(a) ao blog Famílias No Bully, onde terá acesso a conteúdos regulares acerca do bullying entre jovens, formas de prevenir que os seus filhos, sobrinhos, ou netos se envolvam em bullying ou que saibam lidar com ele se surgir.

Neste blog, queremos partilhar consigo artigos de opinião, artigos mais científicos, testemunhos de pessoas que já estiveram nestas situações, entre outros formatos, para que tenha acesso a um conteúdo diverso e interessante.

Queremos ser um apoio para as famílias portuguesas que se deparam com situações muito desafiantes e difíceis, e que desejam fazer algo para ajudar os seus jovens.

Tem algum tópico dentro deste tema que gostava que explorássemos? Envie-nos um email para geral@nobully.pt e podemos adicionar à nossa lista de tópicos.

Boas leituras!

Artigo 5 - 18/12/2019

"O meu filho está a sofrer de bullying. E agora, o que faço?"

Por Soraia Queijo, Psicóloga e Mãe


Sou mãe de 3. Mantenho uma postura descontraída com quase tudo o que as/os envolve, mas há sempre dúvidas e é sobre isso que gostava de escrever.

A sensação que tenho enquanto mãe é que a cada dia vai sendo maior a influência externa, são cada vez mais do mundo, vão absorvendo e tomando conhecimento de mundos para além daquele que lhes damos. Quero com isto dizer que a base que se constrói em casa é importante, mas que não é a única e absoluta.

São muitos os casos de bullying que vou conhecendo através da minha experiência profissional enquanto psicóloga ou daquilo que me vou vendo e ouvindo através da comunicação social.

Iniciamos o ano letivo anterior a aventura do 1.º ciclo e na primeira semana o meu filho é agredido por um colega da mesma idade. Uma vez e outra vez. E uma chuva de dúvidas nos invade, a nós pais, como agir, o que fazer. É bullying? Como isto aconteceu?

E uma pergunta era recorrente: onde estavam, naquele momento, os adultos?


Ouvi. Ouvi com calma e tranquilidade. A ele, à irmã (são gémeos, da mesma idade e na mesma turma), ouvi um colega ou outro e para mim não houve dúvidas quanto à gravidade da situação e a necessidade de agir naquele momento.

De tudo o que lhes tento transmitir há algo que friso vezes sem conta por acreditar que é mote de partida para que se alcance muitas outras coisas: o respeito. Por si e pelos outros. E, em consequência, a necessidade imperativa de preservar a sua integridade física e psicológica. Sempre. Contar a um adulto de confiança sempre que se sentirem invandidos. E naquele momento aquilo não estava a acontecer.

Senti-me perdida, não sabia bem o que fazer, se o meu coração de mãe estaria a exagerar. Não sabia que caminho seguir. Porque a verdade é que ouvia falar muito em bullying, li algumas coisas, tive conhecimento de outras, mas agora estava pouco certa de como agir e a doer-me porque o meu filho estava naquela situação.

Pedi para falar com a professora numa manhã, após o terceiro episódio de agressão. Contei o que tinha acontecido, a professora disse que não sabia de nada, que ele não tinha contado. A situação resolveu-se de imediato: a professora, extraordinária, falou com o outro miúdo e o meu filho, com a outra professora e resolveu-se. Mas... e se não se tivesse resolvido?

Senti-me perdida, sem saber exatamente o que fazer e penso que este sentimento será transversal a todo o exercício da parentalidade desde que o mundo é mundo. Neste sentido, é essencial a partilha, partilha entre mães e pais, escola e instituições uma exposição honesta daquilo que são os desafios, as dificuldades e as dúvidas e é necessário que esta partilha aconteça para que se normalize, sem medos, os medos. Porque é importante percebermos a melhor forma de agir e porque nunca estamos preparados para tamanha responsabilidade esta de ser mãe e pai, de querer fazer sempre certo, seja lá o que isso for.

Soraia Queijo

Artigo 4 - 08/10/2019

"Uma vítima de bullying não é protagonista da sua própria história"

Por Luís Moreira, 31 anos

O meu nome é Luís Moreira, tenho 31 anos, e durante 10 anos fui vítima de bullying.

A partir dos meus 25 anos já pude começar a dizer “durante 10 anos”, por oposição a “durante metade da minha vida”. Dizem-me que soa melhor assim; o que significa, portanto, que a gentileza de suavizar o relato fica, naturalmente, ao cuidado da vítima.

Começou quando era novo, por ser mais gordo do que os outros miúdos. Habitualmente era na escola, mas também me lembro do meu irmão gozar comigo nas férias de verão, porque, no entender dele, a minha figura em cuecas de banho era demasiado hilariante. Acho que, por causa disso, usei t-shirts na praia durante muito tempo. Rapidamente o objecto de gozo passou a ser outras coisas como usar óculos, usar aparelho nos dentes, ser tímido e ser introvertido — o que é bastante natural, sobretudo se formos humilhados com regularidade. Mas os abusos (tal como o vocabulário) evoluem e tornam-se mais elaborados. Ainda durante a escola básica eu era chamado de “maricas” e “paneleiro”. Imagino que as crianças imitavam o que ouviam os adultos dizer; não sei dizer se uma criança de 7 anos sabe o que quer dizer “paneleiro”, apenas sabe que é ofensivo. Na verdade, é só o que precisa de saber.

Lembro-me de ter pavor do corredor da escola porque que era empurrado contra os cacifos e, por isso, aprendi caminhos alternativos que me obrigavam a um desvio e a demorar o dobro do tempo a chegar à sala de aula. O problema era o meu atraso, não o motivo pelo qual eu chegava atrasado. Lembro-me de evitar as casas de banho porque me atiravam contra a sanita e empurravam a minha cabeça contra a minha própria urina e, claro, por causa disso mesmo, aprendi a controlar a minha bexiga para só ir à casa de banho ao final do dia, quando chegasse a casa. O problema era a minha bexiga, não o motivo pelo qual eu a controlava. Lembro-me de haver encarregados de educação que achavam inadmissível a escola permitir que eu partilhasse o balneário com os meus colegas de turma. O problema era acharem que eu era gay; eu não sabia se era ou não.

Lembro-me de ir para a Ericeira num fim de semana de desportos radicais e de não haver um colega que quisesse ficar na tenda comigo. Lembro-me da minha directora de turma ter dito à minha mãe que era bom eu usar óculos porque me “dava um ar mais masculino”. Lembro-me de ter sempre lenços para limpar a saliva da minha mochila, porque não queria que a minha mãe descobrisse que me cuspiam. Lembro-me de evitar o pátio da escola porque a minha cabeça parecia servir de baliza (ou de alvo) de todas as bolas — as que doem mais são as de futebol, por causa da força do chuto e da velocidade. Lembro-me de estar sentado duas horas e meia numa reunião da Associação de Estudantes em que os meus colegas, e alguns amigos, descreveram e desenharam, no quadro de giz, o quanto eu deveria gostar de sexo anal.

Lembro-me de adormecer a lembrar-me de todas estas coisas e lembro-me de rezar a Deus para não acordar no dia seguinte. Lembro-me de desejar, com todas as minhas forças, ser invisível. Lembro-me de pensar, planear e verbalizar a vontade que tinha de me matar, e lembro-me da minha mãe, assim que soube disso, me bater, no mais franco desespero de não saber o que fazer com um filho que não quer viver. E lembro-me, também, do dia em que comecei a esquecer-me de tudo isto. Foi no dia em que comecei a falar.

Mais tarde, muito mais tarde, acabei por perceber que a única fragilidade que alimenta o bullying é o silêncio. Enquanto vítimas de agressão, aprendemos a mascarar as nossas fragilidades, porque sabemos que servem de munição. Aprendemos a lamber as nossas próprias feridas, em silêncio, em segredo, escondidos, envergonhados, sem nunca deixarmos que vejam o quanto nos magoaram. E, sem percebermos muito bem como, estamos a entregar de bandeja todas as armas que os bullies precisam.

Reflexão sobre o bullying

Nos EUA há um movimento anti-bullying chamado “It Gets Better”, o que quer dizer qualquer coisa como “vai ficar tudo bem” ou “vai melhorar”. Eu não sei se isso é necessariamente verdade, e também não sei se concordo com o nome, porque sugere uma atitude passiva por parte da vítima. Esperar que as coisas melhorem, esperar por dias melhores. O que eu acho que acaba por acontecer é que ficamos mais fortes. Ou aparentemente mais fortes. Eu sei que comecei a ficar mais forte quando decidi combater o bullying — e foi a conversar sobre ele. Eu sei que, se iniciarmos o diálogo, estamos a mudar a conotação das palavras, estamos a contribuir para mudar as mentalidades, o tom das nossas conversas e, claro, a nossa atitude.

A começar, por exemplo, com a palavra “vítima”. O carácter da palavra “vítima” é, em si mesmo, negativo. Uma vítima, se detalhar o que lhe aconteceu - como, aliás, eu acabei de fazer - é, muitas vezes, interpretada como chorona, exagerada ou lamechas. Não é surpresa, portanto, que no relato da vítima, ela se coloque habitualmente em último lugar. Aprende a fazê-lo. Uma vítima de bullying nem sequer é protagonista da sua própria história. É uma preocupação para os pais, uma chatice para a escola e uma estatística para o governo.

Um verdadeiro combate ao bullying é, em si mesmo, um combate à ignorância. E deste combate sairemos todos vencedores: as vítimas, os pais das vítimas, os amigos, os professores, os auxiliares e, sim, em certa parte, os agressores. Estamos a impedir que a popularização do tema gaste o assunto, para não termos reacções como “Oh, não, outro artigo sobre bullying”. Uma arrogância de quem acha que sabe do que se trata, porque já ouviu falar um bocadinho sobre o assunto. Temos de falar sobre bullying, é o nosso dever.

Uma mensagem para os Pais

Para os pais, que me estejam a ler, a minha mensagem é simples: falem. A ansiedade dos pais vem, muitas vezes, por não saberem exactamente o que devem dizer. É uma ansiedade, e uma dor, que se cumula com a indisponibilidade dos filhos de falar sobre estes episódios. No meu caso, havia uma vergonha de não corresponder à expectativa que os meus pais tinham sobre mim (uma ficção que, na minha cabeça, correspondia à verdade), e o meu silêncio mascarava o embaraço de ter sido fraco, por não me ter conseguido defender. Se tivéssemos falado na altura, teria percebido que eles estavam tão perdidos quanto eu, tão assustados, e que não havia expectativa nenhuma maior do que a que eles verdadeiramente tinham para mim — que fosse feliz. O diálogo só começa se for seguro, se houver confiança e se não houver consequência. E, sobretudo, com coragem. Encorajem. Se não souberem o que dizer aos vossos filhos, comecem por aqui. Leiam este texto em voz alta, como um exemplo de alguém que começou a sentir-se melhor a partir do momento em que começou a falar.

Talvez tenha deixado de ser vítima. Ou ainda o seja, mas de outras coisas; da minha memória! E, sim, do meu silêncio. É por isso que escrevo este texto - é o meu dever. Estou como o Cesariny: “Entre nós e as palavras, os emparedados / Entre nós e as palavras, o nosso dever falar.”

Artigo 3 - 17/09/2019

A transição para o 5º ano – 5 dicas para os Pais

Por Inês Andrade, Vice-Presidente e Visionary Pacifist da No Bully Portugal.

Formadora Anti-bullying de Professores, Funcionários, Pais e Alunos.


Voltar à escola depois de mais de 2 meses de férias pode ser muito entusiasmante para alguns alunos, mas muito stressante para outros. Especialmente se vão mudar de escola, ciclo ou turma! Tanta mudança de um dia para o outro. A passagem para o 5º ano, por sua vez, é um momento crítico no crescimento de uma criança. A maioria muda de escola, e quer vá com amigos ou sozinho, as preocupações podem encher-lhes as cabeças: “Será que vou conseguir fazer amigos?”, “Será que vou ter boas notas?”, “Agora vou ser dos mais novos, como me vão tratar os alunos mais crescidos?”, “Aposto que os professores não vão ser nossos amigos como na Primária…”, “Com tantas aulas e TPC’s, quando vou ter tempo para brincar?”.

Para além das mudanças no exterior, os seus interiores também estão em mudança. A puberdade começa a chegar, para uns mais cedo para outros mais tarde, a curiosidade pela sexualidade tende a surgir, as paixonetas e os namoricos tornam-se tema central de conversa. Com isto surge também a necessidade de pertencer a um grupo, de ser popular, de encontrar o seu lugar na “hierarquia social”. E a partir daí, os comportamentos de bullying podem instalar-se sem ninguém dar conta.

Calma, não estou a tentar assustar os pais! Mas se pensavam que os filhos já tinham entrado em “piloto automático” e só precisavam de os lembrar de fazer os trabalhos de casa, estão muito enganados! Esta é uma idade fulcral, na qual os vossos filhos vão precisar de apoio e acompanhamento, mesmo que pareça que já não querem. Neste período de transição da infância para a adolescência, eles vão ter muitas dúvidas, testar muitos limites e errar muito! E é essencial ajudá-los a criar hábitos saudáveis e relações positivas.

Cada criança passa esta fase de forma diferente, para alguns são os melhores anos da juventude, para outros são os anos negros que preferem esquecer. Para mim, não foram anos fáceis, daí saber o quão importante é o apoio dos pais nesta fase. Mudei de escola sozinha, para uma turma onde quase todos já tinha grupos formados. Não me identifiquei à partida com os meus colegas, e demorei muito a encontrar o meu lugar. Comecei a relacionar com um grupo de colegas de outra turma, mas também aí me sentia desconfortável, as relações eram tóxicas e o bullying era dissimulado, mas sempre presente. Acabei por me dedicar à escola e concentrar-me em ter boas notas, o que me ajudou a lidar com as frustrações da vida social. Só mais tarde consegui encontrar boas amizades e pessoas que gostavam de mim na minha turma.

Agora, no meu trabalho como formadora da No Bully Portugal, passo tempo com muitos alunos de 5º ano e de outras idades, e vejo facilmente situações semelhantes, onde certos alunos são excluídos por serem novos ou diferentes, onde os colegas mais velhos se aproveitam dos novos para lhes pagarem o lanche ou ficar-lhes com a bola de futebol, onde as agressões e os insultos aos mais fracos são recorrentes. Apesar de tudo isto que observo, vejo também um grande potencial de bondade, afeto, respeito e amizade nestes miúdos, não são nenhuns monstrinhos! Mas tal potencial só é libertado se a sua envolvente for positiva, e os pais são os primeiros exemplos e pontos de apoio.


Assim, aqui ficam algumas dicas de como apoiar o seu filho nesta fase:

  1. Conversar sobre as suas expectativas e receios – por muito que queiramos generalizar, cada criança é única, só se conversar com o seu filho é que vai saber o que lhe vai na cabeça. Sem ser demasiado inquisitivo, pergunte-lhe como acha que vai ser este novo ano, se se sente preparado, se tem algo que o preocupe. Temas como as amizades, as aulas, os professores, as atividades extracurriculares, entre outros, podem ser interessantes de explorar. Tente lembrar-se da sua experiência nesta idade, o que o preocupava? O que o ajudou?
  2. Relembre-o que pode contar consigo – é sempre um conforto saber que os nossos pais estão lá para nos apoiar quando as coisas não correm bem! Mostre-lhe que pode falar consigo sobre qualquer problema e que o irá ajudar a encontrar uma solução, mesmo quando faz algo de errado. Se ele tiver receio de ser castigado ou duramente repreendido, ele vai preferir não contar, e assim se corta a confiança e a comunicação entre os dois. Com isto não digo que lhe dê uma palmadinha nas costas se ele faltar às aulas sem razão, claro! Mas perceber porque o faz (pode ser por sentir excluído nas aulas, ou para impressionar algum colega, ou por algum professor o tratar menos bem) e encontrar uma forma para ele não o repetir é o mais importante.
  3. Ensine-o a estar em grupo e a escolher bons amigos – “como sei se ele é mesmo meu amigo?”. Nem todos nascemos com a capacidade para fazer amigos por todo o lado em que passamos, alguns precisam de uma ajudinha! Uns pecam pela agressividade e afastam quem poderia ser seu amigo, outros facilmente se tornam submissos e aceitam abusos dos colegas, e há também aqueles que se isolam do mundo e ficam à espera que venham ter com eles. Estes comportamentos não são eternos e podem variar consoante o ambiente em que o seu filho está. Esteja atento a sinais de irritabilidade, tristeza acentuada ou maior agressividade, podem querer dizer que as coisas não estão a correr bem na escola. Pergunte-lhe pelos colegas, com quem ele costuma estar mais, o que gosta de fazer nos intervalos, com quem se senta nas aulas… Fale-lhe do que é um bom amigo e como ser simpático e aberto a conhecer pessoas diferentes de si. Encoraje-o a combinar atividades com os colegas, mas também a saber quando dizer “não” a alguma coisa que não goste.
  4. Mostre-lhe que aprender é divertido e entusiasmante – ao passar para o 5º ano, a exigência dos professores dá um grande salto, os TPC’s aumentam e o tempo para brincar reduz consideravelmente. “Que seca!” diria a maioria dos miúdos. É verdade, algumas aulas podem ser uma “seca” e ninguém gosta de ter mais trabalho de um dia para o outro. Enquanto é importante o seu filho acompanhar as aulas e não ficar para trás nas matérias, também é benéfico gerir a pressão em casa, aceitar que não é preciso ter 5 a tudo e que haverá disciplinas em que ele terá mais dificuldades. Sentindo-se mais relaxado e à vontade, há mais espaço para explorar as aplicações que as matérias têm na vida real, por exemplo a Matemática nas contas do supermercado, ou as Ciências no parque ao pé de casa, ou o Inglês nos filmes que ele mais gosta - tanta coisa interessante para aprender! Mostre-lhe que ele pode ser bom a praticamente qualquer coisa, basta trabalhar e acreditar em si mesmo. Elogie os seus esforços e faça-o sentir-se orgulhoso de si mesmo pelas pequenas vitórias. Explique-lhe a importância da educação para a sua vida futura, para aquilo que ele poderá alcançar se quiser – o céu é o limite! (exceto se ele quiser ser astronauta, aí não há mesmo limites).
  5. Motive-o a envolver-se em clubes e desportos – a maioria das escolas e centros educativos oferece várias opções de atividades extra-curriculares, algumas até gratuitas. Estes momentos podem ser muito benéficos para fortalecer amizades e desenvolver competências que completam a sua educação. E são uma excelente alternativa a ficar as tardes a ver televisão ou jogar computador. Explore as opções com ele e motive-o a experimentar coisas novas, dentro daquilo que ele mostra interesse. No entanto, evite preencher 100% do tempo livre do seu filho com atividades, deixe espaço para estar com ele e relaxar em família!

Com estas 5 dicas, que não pedem um grande esforço nem muito tempo, poderá fazer uma enorme diferença na vida do seu filho, nesta sua fase de adaptação tão importante! Vai experimentar?

Inês Andrade

ines@nobully.org

Artigo 2 - 20/07/2019

Bullying Homofóbico - como proteger os seus filhos

Por Raquel António, Psicóloga da No Bully Portugal e Aluna de Doutoramento de Psicologia no ISCTE-IUL, onde investiga o tema do Bullying Homofóbico


O que é o bullying homofóbico?

A prática do bullying abrange diversas idades, rapazes e raparigas e várias formas de expressão, sendo uma delas a homofobia. A homofobia envolve crenças negativas, atitudes, estereótipos e comportamentos para com gays e lésbicas, como irritar, ameaçar ou importunar. Pode, para alguns, resultar do medo de eles próprios serem homossexuais ou de que os outros pensem que estes o são.

O comportamento de bullying homofóbico pode ser expresso em relação a gays e lésbicas, mas também a heterossexuais, ou seja, também existem estudantes heterossexuais que podem ser vítimas de homofobia, não pela sua orientação sexual, mas porque são percebidos como sendo diferentes das expectativas tradicionais do papel de género masculino ou feminino.


Como se manifesta?

As experiências negativas reportadas por estudantes LGBT englobam, sobremaneira, o bullying, a longo termo e repetidamente. Estudos sugerem ainda que o bullying homofóbico é mais severo relativamente ao bullying em geral e menos credibilizado do que as outras formas de bullying, pelos professores e outros adultos.

Dados de um estudo feito com jovens portugueses revelaram que a maioria dos estudantes já assistiu a episódios de bullying homofóbico contra estudantes que são ou são percebidos como lésbicas, gays ou bissexuais. Prevalece a violência psicológica, os comportamentos de agressão são desvalorizados e poucos são os que intervêm quando assistem a estes tipos de agressão.


Que consequências pode ter nos jovens que o sofrem?

Falta de auto-estima e auto-confiança, isolamento, desconcentração, ansiedade, depressão, desempenho escolar fraco e fobia à escola são alguns exemplos das consequências do bullying homofóbico. Existe também uma forte ligação entre uma orientação sexual minoritária e o suicídio. Jovens que são minorias sexuais têm maior probabilidade de cometerem suicídio, tentativas de suicídio e ideação suicida, sendo que jovens homossexuais têm duas a três vezes mais probabilidade de cometer suicídio que jovens heterossexuais.


Quão importante é o papel da família?

Vários estudos indicam que há um papel importante dos suportes parental e social na forma como os jovens experienciam as consequências de episódios stressantes na escola, como o bullying homofóbico. Os estudantes LGBT estão associados, por norma, a baixos níveis, não só de suporte parental, como de suporte social, sendo que a maioria dos jovens tem medo de revelar a sua orientação sexual à família.

O papel da família é fundamental na prevenção e resposta ao bullying homofóbico. Como qualquer outra forma de bullying, o bullying homofóbico pode ser extremamente angustiante para o/a jovem e pode afetar sua confiança e auto-estima. É importante reconhecer os sinais que avisam que o seu filho ou a sua filha está a ser vítima de bullying. A maioria dos jovens tem dificuldade em revelar que está a ser vítima de bullying homofóbico, pelo que é muito importante que deem aos filhos e às filhas tempo e espaço para conversar sobre estas questões.

Da mesma forma, ser vítima de bullying homofóbico não significa que o seu filho ou a sua filha é homossexual ou bissexual. É fundamental que os jovens sintam que os pais os respeitam e apoiam, independentemente da sua orientação sexual ou identidade de género. O suporte parental, aliado a redes formais ou informais de suporte social para as vítimas de bullying homofóbico, podem diminuir a ocorrência destas situações e atenuar as suas consequências!



Artigos publicados por Raquel ou com a sua colaboração:

Artigo 1 - 01/06/2019

A importância de educar para as emoções

Por Inês Andrade, Vice-Presidente da No Bully Portugal


Cada vez mais, se torna evidente a necessidade de formar pessoas que têm consciência das suas emoções, que as sabem gerir, e que compreendem o que os outros estão a sentir. A nossa sociedade precisa de mais dessas pessoas, que são capazes de se auto-regular e de interagir com os outros com empatia e respeito – só assim poderemos construir uma sociedade melhor!

Vários estudos concluíram que as pessoas com maiores competências emocionais têm mais sucesso na escola, têm melhores relações, e envolvem-se menos frequentemente em comportamentos nocivos. Adicionalmente, estando as profissões mais mecânicas a ser substituídas por máquinas, as “soft skills” estão a ser cada vez mais valorizadas e consideradas insubstituíveis por máquinas. Isto significa que as crianças de hoje vão necessitar de apresentar ainda mais competências emocionais quando se candidatarem a uma função profissional.

Ao conjunto destas competências deu-se um nome: Inteligência Emocional (IE), ou seja, “a capacidade de monitorizar as nossas próprias emoções, assim como as emoções dos outros, para distinguir e rotular diferentes emoções corretamente, e usar informações emocionais para guiar seu pensamento e comportamento e influenciar o dos outros” (Goleman, 1995; Mayer & Salovey, 1990).

Qual é a importância da Inteligência Emocional?

Um aspeto essencial que é influenciado pela IE é a saúde mental. Por um lado, vários estudos mostraram que pessoas com maior IE apresentam menos patologias psicológicas que têm como base distúrbios emocionais. Exemplos são a depressão (David, 2005; Hertel, Schutz, & Lammers, 2009), a ansiedade (David, 2005; O’Connor and Little, 2003), a esquizofrenia (Kee et al., 2009), o distúrbio Borderline (Gardner and Qualter, 2009; Hertel, Schutz, & Lammers, 2009), o abuso de substâncias (Hertel, Schutz, & Lammers, 2009) e comportamentos violentos (Brackett et al., 2004; Mayer et al., 2004).

Por outro lado, o bem-estar emocional parece estar correlacionado com a IE, tal como um estudo em estudantes universitários concluiu (Brackett & Mayer, 2003; Lopes et al., 2003). Adicionalmente, as pessoas com alta IE parecem ter também tendência a procurar ajuda psicológica quando precisam (Goldenberg, Matheson, & Mantler, 2006).

A IE influencia também positivamente o sucesso académico, de acordo com vários estudos (Zeidner, Shani-Zinovich, Matthews, & Roberts, 2005). Os alunos com maior IE parecem ter mais atenção e atitudes mais positivas quanto à escola e aos professores. (Rivers et al., 2008).

Nas relações interpessoais, a IE leva a relações com maior qualidade (Brackett, Warner, & Bosco, 2005; Brackett et al., 2006a; Lopes, Salovey, Cote, & Beers, 2005; Lopes et al., 2003, 2004), relações de suporte com os amigos e os pais, no lugar de relações antagónicas e conflituosas (Lopes et al., 2004). Nas relações amorosas, também parece haver uma influência positiva da IE.

E agora?

A questão que surge agora é: será que estamos a educar as crianças e jovens nesse sentido? Nem todas as famílias estão preparadas para o fazer, e nem todas as escolas têm a capacidade para tal. De resto, os conteúdos que as crianças e jovens consomem na televisão e online também nem sempre são os mais benéficos para desenvolver competências emocionais.

Cria-se, assim, uma distância entre o que é necessário para uma sociedade melhor e a educação que a maioria das famílias e escolas tem ferramentas para dar. O que fazemos com isto? Encontramos novas soluções!


Que soluções já existem?

Felizmente, já há muita gente pelo mundo fora a trabalhar estes temas e a criar projetos para promover as competências emocionais na educação das crianças de jovens. Um exemplo é um programa preventivo para escolas chamado “The RULER Approach”, criado pela Yale University, nos Estados Unidos. Este programa promove oportunidades de aprendizagem para alunos, professores, diretores e famílias para desenvolverem as capacidades de reconhecer, compreender, rotular, expressar e regular as emoções, de forma a tomar melhores decisões, ter relações melhores, agir de uma forma pro-social e sentir maior bem estar. As turmas com este programa mostraram ter relações mais positivas e mais respeito, mais entusiasmo por aprender, menos bullying entre os alunos, e menos expressões de zanga ou frustração pelos professores (Reyes et al., 2010).

Em Portugal, começam também a surgir projetos dentro e fora das escolas que promovem a IE, a Educação Positiva e o bem-estar familiar. Na No Bully Portugal, promovemos também estes objetivos, no nosso trabalho com os alunos, os professores, os assistentes operacionais e as famílias. Trabalhamos para criar comunidades escolares com maior empatia, compreensão, cooperação, bondade.


O que cada família pode fazer?

As interações dentro da família e o tempo passados juntos são essenciais para o desenvolvimento emocional das crianças e jovens. Assim sendo, há algumas coisas que todas as famílias podem fazer para criar crianças e jovens com maior Inteligência Emocional:

  1. Conversar sobre as emoções de forma descontraída e encorajar os mais novos a partilhar o que sentiram no seu dia, sem serem julgados
  2. Ver filmes ou ler livros que explorem as emoções e discutir os mesmos – por exemplo, o filme “Divertida Mente” (Inside Out em inglês)
  3. Quando os mais novos passam por algo mais intenso, promover uma conversa na qual eles possam expressar o que sentiram e sentir-se apoiados pelos adultos
  4. Validar e respeitar emoções de quem se sentir com raiva ou tristeza, dando-lhes tempo para processar as mesmas
  5. Partilhar com os mais novos experiências que tenha passado na idade deles, com as quais eles se possam identificar
  6. Se um adulto da família tiver uma reação mais extrema ou desapropriada, procurar um momento para admiti-lo e pedir desculpa aos outros
  7. Respirar fundo sempre que as emoções estiverem a explodir! É a melhor solução para evitar enormes discussões e conflitos

Deixamos estas pequenas dicas que, a longo prazo, farão sem dúvida uma enorme diferença!

Um feliz dia da Criança para toda as Famílias No Bully!!



Bibliografia:

https://positivepsychologyprogram.com/emotional-intelligence-eq/

http://ei.yale.edu/wp-content/uploads/2013/09/pub184_Brackett_Rivers_Salovey_2011_Compass-1.pdf

https://ideas.ted.com/should-emotions-be-taught-in-schools/?utm_campaign=social&utm_medium=referral&utm_source=linkedin.com&utm_content=ideas-blog&utm_term=education

https://www.psychologytoday.com/us/blog/compassion-matters/201201/tips-helping-kids-handle-their-emotions