De uns tempos até aqui, a expressão “vocações lassalistas” está ganhando terreno para descrever o movimento da ação do Espírito Santo no seio da Família Lassalista. Nos últimos anos, quisemos oferecer a todos vocês uma mensagem sobre a Pastoral Vocacional com o objetivo de revitalizar nossos esforços, reconhecer os novos movimentos do Espírito, abrir-nos à reflexão da própria Igreja e desenvolver novas compreensões que possam impactar tanto nos corações como nas práticas pastorais.
Através desta Circular, como Conselho Geral, desejamos oferecer unidade e direção no âmbito da Pastoral Vocacional. A unidade se alcança quando há uma visão partilhada por todos e na qual todos podemos nos ver envolvidos. A direção se alcança quando o que se propõe pode mostrar-nos e dirigir-nos para um horizonte inspirador a partir do lugar específico onde nos encontramos.
Nossa reflexão nesta Circular se viu influenciada pela tensão entre um enquadramento teológico cristão que apoia nossa visão e a realidade dos contextos multirreligiosos no Instituto e a crescente secularização no mundo. Portanto, nos temos perguntado:
Falamos desde a perspectiva da fé cristã ou necessitamos ser mais inclusivos? Corremos o risco de perder o núcleo da vocação lassalista ao buscarmos a inclusão? Como falamos para todos sobre Deus, Jesus e seu chamado, respeitando e aceitando a situação de cada pessoa? Como falamos da vocação a jovens e educadores de outras tradições religiosas? Temos a habilidade de acompanhar de uma forma atrativa e que também permita àqueles que não creem em Jesus descobrirem sua vocação?
O que nos motivou foi a preocupação por todos os jovens e educadores com os quais vivemos nossa missão. Reconhecendo a necessidade de uma contextualização adequada e uma linguagem acessível, cremos que o conteúdo desta Circular e suas propostas vocacionais são válidas para todos.
Ao longo de toda a Circular, subjaz o tema da vocação e das diversas vocações específicas que expressam o primeiro chamado vocacional de cada pessoa. Na tradição católica, a vocação comum de todo cristão batizado é o seguimento de Jesus Cristo. Esse chamado se pode viver dentro das diversas famílias carismáticas da Igreja com suas características específicas incluídas em nossa própria Família Lassalista. Para nós, Lassalistas, nossa vocação comum se orienta a partir da fé, do serviço e da comunidade pela experiência carismática de nosso Fundador, e se vive concretamente em várias formas de vida cristã: por exemplo, na vida religiosa (como Irmãos e Irmãs), como Associados e outras diversas formas de compromisso.
O seguimento de Jesus Cristo, ponto de referência principal para os cristãos, se expressa no cumprimento de seu novo mandamento: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13, 34). O amor mútuo experimentado no serviço aos demais está no centro da mensagem de Jesus Cristo, e tem um poder atrativo para todos os homens e mulheres, sejam cristãos ou não, sejam crentes ou não. As propostas nesta Circular se baseiam na escolha de um modo de vida centrado em Jesus Cristo e no Reino de Deus. Contudo, acreditamos que o amor a cada pessoa e o respeito por sua dignidade exigem que aquilo que propomos se adapte a cada realidade e a cada contexto em particular.
Temos refletido sobre o que está sucedendo em todo o Instituto e na Igreja em relação à Pastoral Vocacional. À luz dessa reflexão, desenvolvemos o primeiro capítulo desta Circular, que tem como objetivo promover uma reflexão ampla, consciente da realidade diversa e complexa e dos desafios e incertezas da Pastoral Vocacional, das sociedades e dos jovens.
O segundo capítulo, sobre a “cultura vocacional”, é um convite a todos para viver a própria vida como vocação e, portanto, a criar o ambiente apropriado, o contexto e os meios para que cada Lassalista possa descobrir esse tesouro comum que partilhamos. A partir dessa perspectiva, convidamos toda a Família Lassalista a comprometer-se com os três enfoques vocacionais que serão apresentados nos capítulos três a cinco.
O primeiro enfoque centra-se naqueles mais próximos a nosso carisma, ou seja, aqueles que, por sua conexão com as comunidades e obras lassalistas, estão abertos a uma experiência de Deus, a relações comunitárias significativas e ao serviço com os pobres. Essa é a “Pastoral Vocacional Lassalista” que constitui o tema do capítulo 3. Nesse capítulo, esperamos dirigir-nos àqueles que vivem como Lassalistas, quer dizer, aqueles que vivem sua vocação “moldados pelo lassalista”.
O segundo e terceiro enfoques centram-se naqueles que podem sentir-se atraídos a aprofundar sua vocação lassalista como uma opção fundamental de vida, seja como Associado para a missão lassalista, seja como Irmão ou Irmã. Chamamos esses enfoques de “Pastoral Vocacional para o processo de Associação” no capítulo 4, e de “Pastoral vocacional centrada na vida de Irmão e Irmã” no capítulo 5.
Estamos conscientes de que, em diferentes países, expressões como “cultura vocacional”, “pastoral vocacional”, “pastoral vocacional lassalista”, “associado para a missão lassalista” ou “processo de Associação” possuem diferentes matizes, com suas próprias histórias e contextos específicos. Animamos todos a abordar essa reflexão sobre a Pastoral Vocacional com uma atitude positiva e com abertura de mente e coração. O objetivo é chegar ao núcleo do conteúdo, com a finalidade de adaptá-lo aos contextos locais.
O adjetivo “lassalista” e depois a expressão “pastoral vocacional” indicam que existe uma clara intenção de propor o carisma lassalista como uma forma de “modelar” a própria vocação e convidar outras pessoas a “serem lassalistas”. Nossa compreensão de “Associado”, Irmão ou Irmã está inspirada na Regra dos Irmãos, na Circular 461 - Associados para a missão lassalista... um ato de esperança - e na Circular 466 - Eles se chamarão Irmãos.
Mesmo que tenhamos escrito esta Circular como Conselho Geral dos Irmãos, desde o princípio a vocação lassalista de Irmã esteve presente em nossa reflexão. Acreditamos que naqueles contextos nos quais as Irmãs estão presentes, tudo o que se afirma aqui sobre os Irmãos também se pode aplicar a elas. Às vezes, nesta Circular, se faz referência a “Irmão e Irmã” e, às vezes, somente a “Irmão”. Em geral, as expressões utilizadas são intercambiáveis.
Reconhecemos que deve existir maior reflexão e maior avanço sobre cada um dos enfoques mencionados anteriormente. Os testemunhos oferecidos no começo de cada capítulo são reflexões sobre o tema a partir da experiência pessoal. Os capítulos 2 a 5 incluem cada qual uma lista de boas práticas e uma lista de critérios de avaliação que podem ser úteis para compreender cada um dos enfoques.
Escolhemos a parábola do semeador (Mt 13) como ícone condutor da Circular. As imagens da semente, da terra e do semeador são profundamente evocadoras. Acreditamos que essas imagens, junto com as ideias apresentadas aqui, podem guiar-nos num caminho “da esperança ao compromisso”. A vocação é um caminho, um processo, uma viagem. Esperamos que a trajetória que apresentamos nesta Circular inspire todos a se acompanhar mutuamente à medida que caminhamos juntos com jovens, educadores, famílias e todos os envolvidos em nossas obras.