O método tradicional de palestras
Intro
O estilo de aula usado nas escolas no Brasil e no mundo é o mesmo há mais tempo do que deveria. Com exceção de alguns lugares excepcionais conhecidos pelo constante êxito em educação, parece lugar comum o uso do tradicional método de palestras no ensino, conhecido também como “Sage on the Stage”.
É provável que desde o leitor mais novo deste post ao mais velho, todos tenham sido ensinados usando esta mesma estratégia. Isso não faz o menor sentido e vamos pensar juntos o por quê. Tudo no mundo mudou rapidamente nos últimos 40 anos. A internet e os smartphones revolucionaram a nossa maneira de viver. Todos os setores da indústria e governo tiveram que se adaptar às inovações tecnológicas de alguma forma. E não é só isso. A pesquisa em aprendizado e educação também evoluiu muito, já é sabido que existem métodos mais eficientes do que o “Sage on the Stage”.
É esquisito então, não só que a nossa maneira de ensinar continue a mesma, mas que as nossas maneiras de testar os alunos também se mantenha.
O método de palestra coloca o aluno numa situação passiva de aprendizado. Um tipo de esponja em que se joga conhecimento na aula, espera-se que ela absorva e depois a testa sobre tal conhecimento. Também crê num padrão antigo de professor autoridade. O aluno é ensinado que não sabe de nada e nem pode saber sozinho, todo e qualquer conhecimento que ele aprende deve vir de uma figura que está em pé na frente da sala de aula.
O que diz quem entende das coisas?
O ganhador do Nobel Carl Wieman escreveu, se referindo ao ensino em faculdades de ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM):
“Se a efetividade de um antibiótico está sendo testada, a efetividade dele em curar um paciente é comparada com os melhores antibióticos atuais, não com o tratamento da sangria. Contudo, no ensino de graduandos em STEM, nós temos a curiosa situação em que, mesmo que novos métodos tenham se demonstrado muito melhores, a maior parte dos cursos em STEM ainda são ensinados pelo método de palestra - o equivalente educacional da sangria.”
(Tradução livre. fonte (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4060683/ Acessado em 09/08/2018)
E agora?
Devemos nos atualizar, correto?
Existem alguns novos métodos já amplamente conhecidos apesar de nem tanto aplicados: Aprendizado baseado em problemas, baseado em projetos, baseado em times e a sala de aula invertida são alguns exemplos. O que há em comum entre todos eles? Eles se propõe a tirar o aluno da posição passiva de ENSINO e colocá-lo em uma posição ativa de APRENDIZADO.
Neles o aluno é forçado a interagir com seus colegas na procura de respostas para perguntas propostas em aula. Aqui não só o estudante ganha a importante habilidade de iniciativa mas também em colaboração e resolução de problemas, duas das habilidades mais apreciadas e demandadas pelo mercado. O professor também desce do púlpito, democratiza a sala de aula e passa a agir mais como um colaborador, um guia ou tutor.
Conclusão
Honestamente, atualizar tão drasticamente a maneira de dar aula não é fácil. Isso significa saltar muito longe da zona de conforto e a crua verdade é que nem todos estão dispostos a fazer isso. É claro que existem muitas outras variáveis envolvidas, ser professor no Brasil não é tarefa fácil. Como Google Educator, e trabalhando em levar o Google for Education para o Brasil afora, eu tive, em sua maioria, turmas compostas apenas por professores, então não vou fingir que sei o trabalho que dá lecionar para adolescentes e crianças constantemente plugados na tomada.
Mas como aluno, afirmo sem pestanejar: é extremamente frustrante. Não só o método de palestra não corresponde à realidade tecnológica vivida pelos estudantes ( Claro que isso não é verdade para todo o Brasil. Temos lugares em que o acesso à internet ainda é muito limitado) , ele ignora a individualidade do aprendizado, aliena uma parte dos alunos e as habilidades de iniciativa, colaboração e resolução de problemas não desenvolvidas são bem chatas de adquirir depois e dão uma atrasada na sua vida profissional.
Continuamos a criar reprodutores, repetidores de fórmulas quando precisamos de criadores! Considero a mudança do aluno passivo ensinado para o aluno ativo que aprende uma das mais importantes dentro da sala de aula.
Nas próximas semanas vamos discutir por aqui o método da sala de aula invertida e o que precisamos fazer para ter uma transição menos traumática entre métodos, fiquem ligados!
Caio Julius - Google Educator 1
Fontes:
- Herreid, Clyde Freeman, and Nancy A. Schiller. “Case Studies and the Flipped Classroom.” Journal of College Science Teaching, vol. 42, no. 5, 2013, pp. 62–66. JSTOR, JSTOR, www.jstor.org/stable/43631584.
- http://www.msuedtechsandbox.com/MAETELy2-2015/wp-content/uploads/2015/07/the_flipped_classroom_article_2.pdf
- http://replay4.me/blog/7-fatos-que-voce-deveria-saber-sobre-flipped-classroom/
- Muzyka and Luker; The Flipped Classroom Volume 1: Background and Challenges ACS Symposium Series; American Chemical Society: Washington, DC, 2016.
- The Flipped Classroom Practice and Practices in Higher Education; REIDSEMA, Carl et. al; Springer,Singapore, 2017.
- WIEMAN, Carl E., Large-scale comparison of science teaching methods sends clear message, NCBI, 2014, disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4060683/ , Acesso em 09/08/2018.