MINICURSOS

Prof. Dr. Breno Zuppolini (UNIFESP)

Aristóteles Contemporâneo

Cronograma

09/10Parte I: Reflexões Metodológicas

10/10Parte II: Substância e Dependência Ontológica (Uma Análise de Caso)

Descrição

Parte I: Reflexões Metodológicas

A partir da consideração da recepção da filosofia de Aristóteles nos séculos XX e XXI, pretendo discutir o papel do/a historiador/a da filosofia, sobretudo no que diz respeito ao tratamento de autores clássicos. A influência mútua entre os estudos contemporâneos de Aristóteles e segmentos da filosofia contemporânea (a de tradição analítica, em especial) nos convida a investigar em que medida é permitido à história da filosofia concentrar-se na avaliação crítica das posições filosóficas e argumentos dos autores estudados sem risco de anacronismo ou perda de objetividade exegética e histórica.


Parte II: Substância e Dependência Ontológica (Uma Análise de Caso)

É comum que doutrinas metafísicas que operam com o conceito de substância postulem a independência ontológica como critério de substancialidade. Aristóteles conhecidamente caracteriza a substância como aquilo sem a qual os outros entes não podem “ser”, ao passo que ela, para “ser”, não depende de um ente mais fundamental (o que quer que isso signifique). Podemos observar que tentativas sucessivas de definir com maior precisão a noção de dependência ontológica, de modo a preservar a caracterização das substâncias como ontologicamente independentes, ocorreram tanto nos estudos aristotélicos como na metafísica contemporânea, em ambos os casos em uma reação crítica à definição modal-existencial. Esperamos que esta análise de caso contribua para a discussão de questões metodológicas suscitadas pela notável influência recíproca entre certas abordagens da história da filosofia antiga e determinados segmentos da filosofia contemporânea. 

 

Drª Evelyn Erickson (UFSC)

Metodologias para filosofia além da poltrona 


Cronograma

10/10 — Estratégias de definição; tipos de argumento.

11/10 — Evidências; estratégias de refutação; falácias.


Descrição

É sabido que a pior parte de qualquer projeto de pesquisa em filosofia é a metodologia (quem nunca quis chorar na hora de escrever essa parte do projeto que atire a primeira pedra). A metodologia da filosofia é um tema simples (parabéns para quem teve coragem de escrever “ócio criativo”) e ao mesmo tempo complexo. Se existe uma atividade filosófica, existe uma maneira de fazer isso. Sócrates perturbava os cidadãos de Atenas (mas a que custo?). Descartes dependia de suas intuições, e observava uma vela derreter esperando o gênio maligno colocar alguma ideia em sua cabeça. A tradição analítica propõe focar na lógica formal e na linguagem. O que essas abordagens têm em comum? Alguns definem a filosofia através de seu conteúdo (a filosofia é mais geral do que outras disciplinas, ou se preocupa com coisas abstratas), mas é possível também pensar em caracterizar a filosofia através de seus métodos (fazemos as coisas de modo diferente do que os outros fazem!). Esse minicurso propõe desmistificar a prática filosófica, propondo um inventário de métodos filosóficos para ser usado no próximo projeto de pesquisa que você precisar escrever.


Bibliografia


Baggini, Julian e Peter S. Fosl. As ferramentas dos filósofos: um compêndio sobre conceitos e métodos filosóficos. Trad. Luciana Pudenzi. São Paulo: Loyola, 2012.

Baker, Ann. Introdução ao pensamento filosófico. Em BonJour, L. e A. Baker. Filosofia: textos fundamentais comentados. Trad. André Nilo Klaudat et al. São Paulo: Artmed, 2010. 2a Edição. Pág. 22-39.

Carnielli, Walter e Richard Epstein. Pensamento crítico: o poder da argumentação. São Paulo: Rideel, 2019. 4ª edição.

Gensler, Harry J. Introdução à lógica. Trad. Christian Marcel de Amorin Perret Gentil Dit Maillard. São Paulo: Paulus, 2016.

Weston, Anthony e David R. Morrow. A Workbook for Arguments. Hackett, 2019, 3ª edição.

PALESTRAS

Prof. Dr. Paulo Fernando Tadeu Ferreira (UNIFESP)

Lições sobre o Paradoxo do Mentiroso em Aristóteles

09/10/2023


A hipótese recente sobre a tradição textual do Órganon aponta a necessidade de revisão do texto transmitido. Em Soph. El. 25 180a2-7, o texto revisto defende, como solução do Paradoxo do Mentiroso, a rejeição do princípio de bivalência, segundo o qual toda afirmação ou negação é verdadeira ou falsa. Argumento que a rejeição do princípio de bivalência deve ser construída não como uma asserção negativa, mas como a revogação de uma asserção positiva, a fim de bloquear a Vingança do Mentiroso; e sustento que, para Aristóteles, sentenças que geram o Mentiroso ou a Vingança do Mentiroso não são bivalentes na medida em que falham em ser enunciados declarativos (emissões vocais significativas sobre algo ser ou não ser o caso: Int. 5 17a23-24), pois minam o próprio status como representações: ao dizerem o que é o caso se são verdadeiras, dizem que são verdadeiras se, e somente se, são falsas (não verdadeiras) e falsas (não verdadeiras) se, e somente se, verdadeiras.

Profª Drª Nastassja Pugliese (UFRJ)

Filósofas oitocentistas brasileiras: uma metodologia de resgate

10/10/2023


Ao longo do século XIX no Brasil houve uma efervescência intelectual em torno do problema da natureza da razão e, mais especificamente, da natureza da razão das mulheres. Pallares-Burke  (2021) caracteriza este debate como a “querelle des femmes brasileira” (2021). Recentemente, tenho mapeado as contribuições das filósofas brasileiras ao longo do século XIX (2022) e, mais especificamente, tenho mostrado o lugar de Nísia Floresta na história da filosofia moderna e do Brasil através da influência do cartesianismo prático em sua obra (2023). Analisando os efeitos sociais de sua reflexão filosófica - a reivindicação coletiva pelo direto das mulheres à educação - argumento que o impacto gerado pelo livro Direitos, de tradução de Floresta, pode ser evidenciado pela presença do mesmo tropo do cartesianismo prático em textos de filósofas como Josefina Álvarez de Azevedo, Juana Manso e Francisca Senhorinha da Mota Diniz. Estas autoras também fazem uso da tese da separação mente-corpo como princípio teórico para fundamentar filosoficamente o direito à educação e à igualdade expressa em termos práticos. 

Após apresentar o contexto da filosofia oitocentista produzida por mulheres no Brasil, irei me concentrar em explicitar alguns princípios metodológicos que orientam este projeto de resgate: (1) direito à memória, (2) abordagem filosófica da história, (3) crítica dos marcos históricos e o lugar dos casos particulares, e o (4) uso do território como chave de leitura da história da filosofia. O objetivo do projeto que orienta esta apresentação é ampliar, com consciência metodológica, a narrativa sobre a história da filosofia moderna, contribuindo para a preservação da memória intelectual das mulheres brasileiras.

Julia Franke-Reddig (Universität Siegen)

Axiomatic Thinking: A Philosophy of Science at the Beginning of the 20th Century

11/10/2023

em parceria com o Colloquia Logicae do CLE


David Hilbert is well known for the establishment of the Hilbert-program and the development of the Hilbert-style. But he also developed – at least roughly – a philosophy of science. In an article from 1918 he states: 

I believe: everything that can be an object of scientific thinking in general, is to be devoted by axiomatic method, in so far it is ready for the formation of a theory. Thus it indirectly falls into the field of mathematics. (Hilbert, 1918)

The 'axiomatic method' is included in Hilberts idea of 'axiomatic thinking' (axiomatisches Denken) and based on his 1899 developed concept of 'implicit definition' (Hilbert, 1899). About the same time the theories of relativity were established by Albert Einstein (Einstein, 1906 and 1916). In 1919 he referred to them as 'principle theories', opposed to 'constructive theories'. According to Einstein, theories of the first kind are characterized by an analytical method: they are based on principles – like the invariance of the speed of light and the special or general principle of relativity – “that give rise to mathematically formulated criteria which the separate processes or the theoretical representations of them have to satisfy” (Einstein, 1919). The philosophical connective between Hilbert and Einstein can be found in the philosophy of the physicist Moritz Schlick. In his 'General theory of Knowledge' (Allgemeine Erkenntnislehre) from 1918 he reconstructed scientific theories as so called 'systems of concepts' (Begriffssysteme), which try to recreate the connection of facts with each other to replicate reality in a mathematical form. This systems are inspired by Hilbert's 'implicit definition' and can be understood as a philosophical interpretation of the theories of relativity: For Schlick the “procedure of the exact sciences” – like the theoretical physics of Einstein – consists in applying the “implicit defined systems of concepts of mathematics” to the world (Schlick, 1918/1924). 

In front of this historical background I understand the idea of 'axiomatic thinking' as a philosophy of science that was evolved at the beginning of the 20th century in the light of mathematical development and the empirical success of principle theories during this age. In my talk I am going to evaluate the limits and possibilities of this mathematical-logical philosophy of science.

Keywords: Philosophy of Science, Mathematics, Physics; David Hilbert; Albert Einstein, Moritz Schlick


References

Einstein, Albert:

– „Zur Elektrodynamik bewegter Körper“, in: Annalen der Physik 17 (1905), p. 891-921.

– „Die Grundlage der allgemeinen Relativitätstheorie“, in: Annalen der Physik 49 (1916), p. 769-822.

– „What is the Theory of Relativity?“, in: The London Times (November 28th, 1919).

Hilbert, David:

– Grundlagen der Geometrie. Commemorative publication for the unveiling of the Gauss-Weber-Monument in Göttingen, Leipzig: Teubner (1899).

– „Axiomatisches Denken“, Lecture at the Swiss Mathematical Society in Zürich on September 11th, 1917, Berlin/Heidelberg: Springer (1935), p. 405-415.

Schlick, Moritz:

– Allgemeine Erkenntnislehre, edited and introduced by Hans Jürgen Wendel and Fynn Ole Engler, Wien/New York: Springer (2009).