A utilização da engenharia genética envolve importantes problemas éticos. Como tais problemas ainda não estão resolvidos, são aqui propostas considerações gerais que ainda aguardam resposta.
Reflexões gerais
Os avanços possíveis proporcionados pela engenharia genética possibilitam a solução de muitos problemas globais. Ao mesmo tempo, surgem desafios éticos novos e desconhecidos, que exigem reflexão. Um dos problemas enfrentados seria a relutância religiosa em modificar um ser humano geneticamente sob a justificativa de que isso corresponderia a uma espécie de atitude semelhante à de "brincar de Deus".
Outro problema seria a potencial desigualdade provocada pela maneira como essas técnicas seriam distribuídas pela população. Sendo técnicas muito caras, a parcela mais rica e menos numerosa da população poderia ser beneficiada, em detrimento da população mais carente, o que geraria grande disparidade no uso da engenharia genética.
Além disso, existe a preocupação de que esses processos sejam utilizados, a longo prazo, para fins outros que a saúde, abrindo espaço para uma possível eugenia da raça humana. Isso produziria indivíduos modificados que poderiam oprimir aqueles que não fossem modificados, os quais poderiam também sofrer todo o tipo de preconceitos.
Um último problema seria a insegurança jurídica. As leis atuais parecem não ser suficientes para lidar com os desafios abertos pele engenharia genética. Seria necessário um longo processo de criação de leis específicas e regulamentações, incluindo a biossegurança e a biotecnologia, o que exigiria um amplo debate entre os vários setores da sociedade.
Edição genética de embriões: a possibilidade de editar genes em embriões humanos para eliminar doenças hereditárias ou até mesmo para "melhorar" certas características suscita questões sobre eugenia e a definição de padrões de normalidade. Existe uma preocupação de que isso possa levar a uma sociedade em que as características desejáveis são escolhidas, criando uma desigualdade biológica.
Segurança e consequências a longo prazo: a edição genética em humanos ainda é uma tecnologia nova e os efeitos a longo prazo não são completamente compreendidos. Existe o risco de efeitos indesejados e mutações fora do alvo serem transmitidos às futuras gerações.
Consentimento e autonomia: em muitos casos, as decisões sobre edição genética são tomadas pelos pais ou responsáveis, levantando questões sobre a autonomia do indivíduo cujo genoma está sendo alterado
Impacto ambiental: a introdução de OGMs no meio ambiente pode ter consequências imprevistas, como a criação de “superpragas” resistentes a pesticidas ou a contaminação genética de espécies selvagens.
Biodiversidade: o uso intensivo de OGMs pode levar à redução da biodiversidade, já que cultivos geneticamente modificados podem substituir uma variedade de culturas tradicionais.
Controle corporativo e patentes: grandes corporações detentoras de patentes sobre sementes geneticamente modificadas podem ter um controle excessivo sobre o suprimento de alimentos, levantando preocupações sobre monopólios e acesso justo a recursos.
Tratamentos gênicos: embora a terapia genética tenha o potencial de curar doenças genéticas, ela também levanta questões sobre acesso e custo. Quem deve ter acesso a esses tratamentos e como eles devem ser distribuídos?
Edição de linhagem germinativa vs. células somáticas: a edição de células somáticas afeta apenas o indivíduo tratado, enquanto a edição da linha germinativa altera os genes que serão transmitidos para a próxima geração, levantando questões sobre a hereditariedade das mudanças genéticas.