Movimento sindicalista ressurge com força nos EUA

Joe Biden se torna o primeiro presidente americano a participar de um ato grevista, no chamado “verão das greves” 

O movimento sindical americano vive um momento de expansão como não se via há pelo menos cinco décadas. O ressurgimento é atribuído principalmente à forte recuperação econômica dos Estados Unidos, onde há pleno emprego. Com isso, os trabalhadores têm maior poder de barganha. Mas há também outros elementos, como o contraste entre o crescimento dos lucros das grandes corporações e o dos salários, em um período em que a inflação é alta e corroi o poder de compra.  


Neste ano, mais de 550 mil trabalhadores, de diferentes indústrias, já cruzaram os braços para reivindicar melhores salários, benefícios e condições de trabalho. Como base de comparação, no ano passado foram 126 mil. Em anos recentes, os dois momentos de picos de greves aconteceram em 2018 e 2019, com a paralisação de 487 mil e 429 mil trabalhadores, respectivamente. Mas, ao contrário de agora, a maioria foi realizada por trabalhadores do setor público.


As duas paralisações com maior repercussão internacional, neste ano, foram provavelmente as dos atores e roteiristas de Hollywood e a da indústria automobilística. No entanto, há centenas de outras, fora do radar do governo, que contabiliza apenas as que mobilizam mais de mil trabalhadores -- nesta lista, já são 20. Segundo levantamento da Universidade Cornell, que mantém um banco de dados sobre o assunto, considerando outras paralisações menores, o número passa de 300


Nas décadas de 1970 e 1980, eram comuns anos com grandes greves, que paralisaram mais de 400 mil trabalhadores. Mas o movimento sindical americano entrou em decadência a partir daí, com a mudança de fábricas para o exterior e para Estados com leis mais rígidas contra greves. Desde então, o percentual da força de trabalho sindicalizado caiu de 20% para 10%. 


O cenário, hoje, é diferente. A globalização, por questões geopolíticas, está sendo revista, e a indústria automobilística, por exemplo, tem registrado lucros recordes. Só neste ano, foram cerca de US$ 20 bilhões. Na última década, outros US$164 bilhões. E o mesmo acontece com outros setores, que cresceram fortemente na pandemia, como o de logística.


Na queda de braço entre patrões e empregados, a opinião pública também voltou a apoiar os sindicatos. Segundo levantamento da Gallup, o percentual de pessoas favoráveis aos sindicatos cresce desde 2009 e está de volta aos patamares de meados da década de 1960, tempos áureos do sindicalismo nos EUA. Além disso, o número de americanos que acreditam que os sindicatos vão continuar a ganhar força subiu de 19%, há cinco anos, para 34%. 


Especialistas afirmam que as greves podem fortalecer o movimento sindical, na medida em que o sucesso dos grevistas contagie novos setores e indústrias nos Estados Unidos.


O apelo público do movimento é tal que o presidente Joe Biden, em campanha para reeleição, tornou-se recentemente o primeiro presidente americano em exercício a participar de um ato grevista de trabalhadores da indústria automotiva, em Michigan.


Há, contudo, o receio de que o ressurgimento do movimento sindical nos Estados Unidos possa afetar a produção do país e a economia, às vésperas das eleições presidenciais. Além dos potenciais prejuízos gerados pelas paralisações, também existe a possibilidade de que os reajustes ajudem a pressionar a inflação, um dos pontos fracos de Biden na área econômica. 


Historicamente, o partido Democrata, de Biden, é mais associado à redução das desigualdades sociais e ao movimento sindical. Mas os republicanos, liderados por Donald Trump, seu rival à Casa Branca, também têm buscado se aproximar dos sindicatos defendendo políticas protecionistas e adotando um discurso contra a “ganância das grandes companhias”.


Independente do vencedor, no entanto, o ressurgimento do movimento sindical nos EUA indica um crescente desconforto com a desigualdade social, mesmo na maior potência capitalista, em um momento em que as discussões sobre como resolver a questão, cara ao Brasil, ganham fôlego em todo o mundo.


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Marco temporal e pautas de costumes abrem crise entre Congresso e STF

Parlamentares do Senado e da Câmara se movimentam para aprovar novos projetos de lei e tentar reverter decisões da corte 

Discussões e decisões recentes do STF sobre a descriminalização da maconha, o direito ao aborto e o marco temporal abriram uma crise com o Congresso Nacional. Contrariados pelo andamento dos julgamentos, grupos de parlamentares como as bancadas ruralista e evangélica vêm se movimentando para limitar o poder dos magistrados e aprovar novas leis, que os desautorizam.


O caso mais emblemático da disputa institucional é possivelmente o do marco temporal, a tese de que os povos indígenas brasileiros só teriam direito às terras ocupadas na data da promulgação da constituição brasileira de 1988.


No dia 21 de setembro, o STF rejeitou, por nove votos a dois, a tese do marco temporal. Mas, menos de uma semana depois, o Senado aprovou, com 43 votos favoráveis e 21 contrários, a PL 2.903/2003, que recoloca a questão em discussão, junto com outras propostas de para regulamentar as demarcações de terras indígenas, e a enviou para sanção presidencial. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou por vetar a tese. Porém, a bancada ruralista promete derrubar o veto e mantê-la.


Outra votação que gerou forte reação no Congresso foi a da descriminalização da maconha para consumo próprio. O STF ainda não chegou a uma decisão final. Mas, até ser interrompida por um pedido de vistas do ministro André Mendonça, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, no final de agosto, tinha já cinco votos favoráveis, e apenas um contrário, de Cristiano Zanin, recém indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Como reação, em meados de setembro, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, apresentou Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que criminaliza o porte de qualquer substância ilícita, em qualquer quantidade. A perspectiva é de que a PEC seja votada na Comissão de Justiça e Segurança Pública (CCJ) e no plenário do Senado, em novembro.


Há ainda a questão da descriminalização do aborto até a 12a. semana de gestação. Pouco dias antes de se aposentar compulsoriamente por idade, no dia 2 de outubro, a ministra Rosa Weber votou favoravelmente à demanda, apresentada pelo PSOL, em processo iniciado em 2017. O julgamento foi travado em seguida, por um pedido de destaque do ministro Luís Roberto Barroso. Mas o voto favorável inflamou os ânimos de congressistas contrários à descriminalização.  


Atualmente, há três projetos antiaborto tramitando no Congresso e uma proposta de plebiscito, feita pela oposição, para que a população indique se é contrária ou favorável à desciminalização da prática. Hoje, o aborto legal é previsto na legislação brasileira em casos de violência sexual, risco de vida da gestante e de comprovação de que o feto é anencéfalo.


Na agenda anti-STF estão propostas para limitar decisões individuais de ministros do STF e estabelecer mandatos para os magistrados. Hoje, uma vez indicado e aprovado para o cargo, o magistrado só se aposenta compulsoriamente aos 75 anos. O texto que limita as decisões individuais já foi aprovado pela Comissão de Constituição de Justiça do Senado. O outro ainda será analisado. Mas há um acordo com a oposição para que a pauta seja acelerada.


Em todos os casos que têm motivado a queda de braço entre as instituições, o poder de decisão vai parar nas mãos do STF por falta de clareza ou de regulamentação da legislação, elaborada pelo Congresso. Em alguns casos, os parlamentares evitam discutir temas espinhosos para não se indispor com eleitores. Assim, as teses apresentadas em julgamentos em instâncias inferiores deixam margem para contestação e reavaliações.


O governo tem visto com preocupação a disputa, por entender que a discussão de pautas de costumes divide a sociedade e ajudam a manter ativa e engajada a base bolsonarista. Mais interessante, na visão do Planalto, seria a discussão de pautas econômicas, como a correção do saldo do FGTS e a forma de registro do pagamento dos precatórios nas contas públicas.

Primeiro salmão produzido em laboratório chega ao mercado

Fabricado com impressoras 3D, o produto já pode ser comprado em supermercados da Áustria e da Dinamarca

A startup austríaca Revo Foods anunciou, em setembro, o lançamento comercial da primeira carne de salmão do mundo produzida em impressoras 3D. O produto, feito à base de uma micro proteína derivada de um fungo filamentoso e de proteína de soja, está sendo vendido na Áustria, Alemanha e Dinamarca.


A startup foi fundada em 2020. Inicialmente, seu objetivo era a produção de órgãos humanos em laboratório. Mas a empresa decidiu mudar de rumos, depois de analisar os impactos  ambientais da indústria pesqueira no mundo. Hoje, o foco da empresa é a produção de comida com base 100% vegetal, inspirada em carnes de peixes.


A empresa admite que o gosto não é exatamente o mesmo do salmão natural. Mas diz que o produto é bom e que o sabor será refinado com o tempo. Em termos de impacto ambiental, a Revo Foods afirma que, para produzir seu salmão, gasta 95% menos água e emite de 77% a 86% menos CO2 que o método tradicional.

   

A produção de carnes em laboratório vem sendo desenvolvida há anos e já rendeu alguns produtos, como “hambúrgueres” e carne de frango vegana. Mas é ainda um negócio incipiente. A produção inicial de empresas como a Revo é irrisória em relação ao consumo mundial. Mas, diante da necessidade de tornar a produção de alimentos mais sustentável, à medida em que surgem novas opções de produtos e marcas de “carnes” 100% veganas, o modelo tende a ganhar adeptos e maior escala.

X, ex-Twitter, reduz controle de desinformação

Empresa demitiu a metade da equipe global de Integridade Eleitoral às vésperas de ano de eleições em cerca de 70 países 

A X, ex-Twitter, demitiu metade da equipe interna responsável pelo controle de desinformação relacionado a eleições no final de setembro. O corte acontece às vésperas de um ano em que serão realizadas eleições importantes em cerca de 70 países.


Dias antes, um relatório da União Europeia já havia apontado a X como a rede social com maior proporção de desinformação na Europa, entre as grandes redes sociais. Agora, a equipe dedicada a identificar e cortar usuários que produzem e divulgam informações falsas na plataforma ficará ainda mais fragilizada.


Na União Europeia, em particular, a legislação tem se tornado mais restritiva contra as chamadas fakenews. Agora, obrigam as redes a removerem contas falsas, desinformação e discurso de ódio. Diante a ameaça de pesadas multas, de até 6% do faturamento global, empresas como Facebook, Google, Instagram e TikTok vem colaborando. Mas a X parece seguir direção oposta, apesar de Elon Musk, dono da rede, ter dito que a empresa iria se adequar e seguir as novas regras da União Europeia.


Entre as eleições previstas para o próximo ano está a disputa pela presidência americana. Haverá também eleições na Índia e em diversos países africanos e da União Europeia.


O caso coloca em evidência a responsabilidade e o compromisso das grandes empresas do setor de tecnologia no controle da desinformação na internet. No Brasil, apesar do arrefecimento dos ânimos após as eleições presidenciais, o chamado projeto de Lei das Fake News, que pode tornar mais rígidas as punições contra a disseminação de desinformação, segue em discussão. Mas deverá ser votado somente em 2024, quando o país realizará eleições para a definição de prefeitos e vereadores.

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