Nós ainda estamos aqui
Nós ainda estamos aqui
A história crua apresentada em “Ainda Estou Aqui” conquista o público ao registrar um crime da ditadura que marcou o Brasil. Filme alcança mais de dois milhões de espectadores.
O filme “Ainda Estou Aqui”, em cartaz há menos de um mês, já alncançou a marca de mais de 2 milhões de espectadores, após conquistar o reconhecimento e o prestígio de festivais internacionais. O forte sucesso aumenta as expectativas sobre seu desempenho no Oscar de 2025, que poderia indicar Fernanda Torres ao posto de Melhor atriz. O longa-metragem protagonizado por Fernanda Torres e dirigido por Walter Salles, se manteve na liderança das bilheterias, à frente de ‘Gladiador II’ e ‘Wicked’, estrelado por Ariana Grande.
A história se passa na cidade do Rio de Janeiro durante os anos do regime ditatorial (1964-1985) no Brasil. A obra narra a história da família Paiva a partir do desaparecimento do patriarca, o engenheiro civil e ex-deputado Rubens Paiva, sequestrado por agentes militares e levado de sua própria casa no bairro do Leblon, em 20 de janeiro de 1971. Com a falta de informações sobre o paradeiro de seu marido, Eunice Paiva luta para manter os cinco filhos unidos ao mesmo tempo em que busca respostas por parte do governo sobre o paradeiro do marido.
O filme é inspirado no livro “Ainda Estou Aqui” do escritor e roteirista Marcelo Rubens Paiva. O livro narra a história da sua mãe, Eunice, e sua jornada para sobreviver e superar a violência que marcou profundamente a família. O sequestro de Rubens Paiva ocorreu no auge da violência da ditadura, com o exercício do AI 5. Após a estreia nos cinemas, o livro alcançou o primeiro lugar nas vendas da Amazon brasileira.
A obra de Walter Salles atraiu o público desde antes de ser lançada, quando as imagens do 81º Festival de Veneza – onde Ainda Estou Aqui foi exibido no dia 1º de setembro – circularam na internet. O aplauso de quase 10 minutos da plateia, e a imagem de Fernanda Torres e Selton Mello emocionados, tocou os brasileiros. O filme chegou aos cinemas no dia 7 de novembro.
Após 40 anos do desaparecimento do político, a família Paiva conseguiu o reconhecimento de que o Estado brasileiro havia matado o patriarca. A Comissão Nacional da Verdade confirmou a morte do Deputado Rubens Paiva, com detalhes sobre a tortura praticada contra ele através de depoimentos de quem testemunhou o crime.
A crítica especializada elogiou a atuação de Fernanda Torres e acalentou o sonho do país de levar o Oscar de melhor atriz. Quando o Instagram da Academia do Oscar postou uma foto da atriz, a postagem foi alvo de milhares de comentários brasileiros. Para Fernanda Torres, a grande vitória é a boa repercussão do filme e a vontade dos brasileiros de irem ao cinema prestigiá-la.
Líderes do G20 se reúnem no Rio de Janeiro
O Rio de Janeiro foi sede da 19ª Cúpula de Líderes do G20 entre os dias 18 e 19 de novembro. O encontro teve a presença de presidentes e representantes de 19 países-membros do grupo que representa 85% do PIB mundial. A presidência do G20 é rotativa anual. O Brasil assumiu o posto no dia 1° de dezembro de 2023 e conclui a missão em 30 de novembro de 2024. Nesse período, o país trabalhou pela agenda "Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável", onde o tema central é o combate à fome e à pobreza.
O evento serviu para firmar reuniões bilaterais entre presidentes e fechou ao menos dois consensos relevantes entre os líderes. A Declaração de Líderes do G20 destaca o tema da taxação dos super-ricos, chamados de "indivíduos de patrimônio líquido ultra-alto". É a primeira vez que o tema aparece em uma declaração do G20. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem defendido uma taxação internacional de patrimônio, com o fim de evitar a fuga de capitais caso seja adotada de modo isolado por algum país, tornando a política inócua.
Segundo o ministro, "quando falamos em taxação de patrimônio, isso tem que ser internacional. Países que tentaram taxar grandes fortunas tiveram fuga de capitais, mas se é de forma internacional não há como fugir".
Outro assunto a ser destacado é a guerra em andamento na Faixa de Gaza e o conflito na Ucrânia. Os líderes pedem um "cessar-fogo abrangente em Gaza" e denunciam os impactos humanitários causados pela guerra na Ucrânia. O grupo cita ainda "o direito palestino à autodeterminação", em defesa tanto de Israel como da Palestina, para que possam viver "lado a lado, em paz, dentro de fronteiras seguras e reconhecidas". Reitera o texto: "Afirmamos que todas as partes devem cumprir suas obrigações sob o direito internacional, incluindo o humanitário e de direitos humanos, condenando ataques contra civis e infraestrutura".
Criado em 1999 em um contexto de uma crise econômica que atingiu os países asiáticos, o G20 foi formado como um fórum informal de discussões em busca da estabilidade econômica e financeira internacional que reuniu, inicialmente, presidentes de Bancos Centrais e ministros da Economia. Inicialmente restrito ao âmbito do G7/G8, expandiu-se quando o desequilíbrio macroeconômico propagado na Ásia e na América Latina fez constar a necessidade de se incluir países em desenvolvimento nas discussões. Sua importância hoje se evidencia no fato de que os seus membros respondem por 75% do comércio internacional e em torno de dois terços da população mundial.
Aliança contra a fome
Durante o encontro, foi lançada a Aliança contra a Fome e a Pobreza, uma proposta do Brasil que atraiu esforços globais para erradicar a fome até 2030 através de programas de transferência de renda em países de baixa e média-baixa renda. A meta é que, até 2030, desigualdades sejam reduzidas, contribuindo assim para revitalizar parcerias globais com foco no desenvolvimento sustentável.
Derrubada de árvores na Zona Sul de São Paulo causa protestos na população
O número de focos de incêndio já ultrapassou 7.300, maior número registrado desde 1998
No dia 6 de novembro, a Prefeitura de São Paulo iniciou uma obra para a construção de túneis na Rua Sena Madureira, na Zona Sul da capital. Assim, operários começaram a derrubar árvores do canteiro central da rua, em seguida, vários protestos vieram à tona.
A ação da Prefeitura visa estabelecer uma ligação entre a Rua Sena Madureira e a Avenida Ricardo Jafet, com o intuito de desafogar o congestionamento de veículos na região. Para tanto, recorreu a um projeto de 2011, arquivado por ocasião de uma troca de prefeitos do município. Deste, pesa o fato de haver sido investigado na operação Lava-Jato, porém a atual gestão resolveu retomá-lo, a fim de economizar pela desobrigatoriedade de uma nova licitação. Três controvérsias preponderam na situação: a questão ambiental, habitacional e social, e da mobilidade urbana.
Pelo aspecto ambiental, há uma controvérsia sobre a existência ou não de nascente e córrego na região, cuja afirmativa a tornaria uma Área de Preservação Permanente — APP. Nos termos do inciso II do art. 3° da Lei Federal n° 12.651 de 2012, uma APP é uma "área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas". Na mesma Lei, nos seus artigos 7, 8 e 9, há formulações que regulamentam, com maior severidade, o regime de proteção de suas águas. Com efeito, sobre isso, a Prefeitura nega que a região seja uma APP, o que, no seu entender, atenuaria o estrago feito pela derrubada de árvores, fato contrabalanceado pelo plantio planejado de 266 mudas e pela preservação de 362 árvores existentes no local. Por outro lado, há evidências[BC1] , pelas quais a própria Prefeitura seria parcialmente responsável, de que a área possui nascentes e, portanto, deve haver um cuidado ambiental maior, pois qualquer intervenção no local poderia ser irreversível, causando, por exemplo, problemas de drenagem hídrica.
No que tange à questão habitacional e social, há pelo menos quatro décadas, duas comunidades vivem por lá, a Souza Ramos e a Luiz Alves, que reclamam porque não foram oficialmente avisadas da situação e por não haver nenhum plano de remanejamento para elas. Na audiência pública de 16 de agosto de 2022, o secretário de Infraestrutura Urbana e Obras, Marcos Monteiro, comenta a respeito: "Não é verdade que a gente não sabe o que vai fazer. Como eu falei, a responsabilidade por dar encaminhamento à transferência das pessoas é da Sehab [Secretaria de Habitação]. [...] Assim que nós retomarmos a obra, como eu falei, a gente retoma as conversas com CET [Companhia de Engenharia de Tráfego] e Sehab, para darmos a solução mais justa, a solução melhor para a cidade como um todo e também para essas pessoas" (fl. 26).
Por fim, com relação à mobilidade urbana, sabe-se que inúmeros planos urbanísticos da cidade de São Paulo, assim como a própria Política Nacional de Mobilidade Urbana, priorizam os pedestres, os ciclistas e o transporte público aos carros e às motos. A controvérsia em torno disso reside em que tal obra não considera essa diretriz, antes inverte a prioridade, acentuando o trânsito dos carros e das motos pela região, agravando o acesso ao transporte público e as condições das vias para ciclistas e pedestres.
Financiamento climático e transição energética no centro da 29ª edição da COP
29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática levanta debates sobre a urgência do financiamento da causa ambiental
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática de 2024, a COP29, marcou a 29ª edição do evento organizado pelas Nações Unidas, realizado em Baku, Azerbaijão, de 11 a 22 de novembro. O encontro reuniu líderes globais, ativistas ambientais, cientistas e representantes da sociedade civil para discutir estratégias urgentes de enfrentamento à crescente crise climática, frente aos compromissos firmados no Acordo de Paris, de 2015.
Entre as principais pautas, o financiamento climático e a transição energética destacaram-se sobre uma realidade em que dados recentes alarmantes mostram 2024 no caminho de ser o ano mais quente já registrado. A temperatura global média até setembro alcançou 1,54°C acima dos níveis pré-industriais, impulsionada pelo fenômeno do El Niño e pela contínua emissão de gases do efeito estufa, o que chamou a atenção de ativistas e organizações ambientais para os debates.
Diante desse cenário, a cúpula de discussão fechou um acordo de US$300 bilhões por ano para financiar o combate à ação climática global, doados ao países em desenvolvimento pelos países já desenvolvidos. No geral, o valor do acordo foi criticado pelos líderes de instituições ambientais e países em desenvolvimento.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, afirmou que “esperava um resultado mais ambicioso”, além de pedir que o acordo seja “honrado integralmente e dentro do prazo”.
Já para os países mais vulneráveis, o acordo trata-se de uma “ofensa”, apresentando um valor muito abaixo do esperado e que não suporta toda a necessidade financeira à mudança climática.
Além desses, a criação de um Mercado de Carbono apoiado pela ONU foi mais um dos temas discutidos entre a cúpula. Créditos de carbono originam-se de projetos de sustentabilidade ambiental, como parques eólicos e plantações, em países menos desenvolvidos, que recebem um crédito a cada tonelada métrica de redução de emissões à atmosfera. Outros países e empresas podem comprar esses créditos, inventando a causa climática.
Para o Brasil, sua representação tem desempenhado um importante papel nesta edição da COP. Com o objetivo de reduzir o desmatamento na Amazônia até 2030, o país tem procurado investidores internacionais em busca de seu estabelecimento nas negociações climáticas internacionais.
“Nossa meta reflete nossa mais alta ambição: a redução de emissões de até 67% até 2035, comparada ao ano de 2005. Ambiciosa certamente, mas também factível”, disse o vice-presidente, Geraldo Alckmin.
Donald Trump, candidato republicano, é reeleito Presidente dos Estados Unidos
Trump retorna à presidência dos EUA após vencer Kamala Harris em uma disputa marcada por tensões políticas e escândalos
Após uma eleição conturbada, Donald Trump, ex-presidente norte-americano e candidato republicano, foi declarado atual presidente dos Estados Unidos. Derrotando sua oponente, com 312 votos no colégio eleitoral contra 226 da democrata Kamala Harris, Trump retorna à Casa Branca como 47º presidente, reiterando sua popularidade e agenda conservadora.
Ainda durante a manhã de 6 de novembro, antes do final da apuração, Trump já era considerado vencedor em Estados cruciais e decisivos à eleição, conhecidos como “estados-pêndulo” por sua variabilidade entre democratas e republicanos, como Pensilvânia, Carolina do Norte, Wisconsin e outros, conquistando o número suficiente de eleitores no Colégio Eleitoral para a vitória.
A campanha de Trump foi centrada em temas como imigração e protecionismo, tendo a deportação de estrangeiros e aumento de taxas e bloqueio para produtos de outros países como promessas principais de sua campanha. Com a ampla utilização das redes sociais, Trump contou também com o apoio de personalidades como Elon Musk, CEO da Tesla, que, ao todo, gastou US$ 200 milhões na campanha presidencial de Trump, além de ter sorteado US$ 1 milhão por dia para os eleitores de Trump em Estados decisivos. Tal apoio o garantiu uma nomeação ao Departamento de Eficiência Governamental por próprio presidente, como o objetivo de "desmantelar a burocracia governamental", impulsionar "uma reforma estrutural em larga escala" e cortar gastos.
As eleições também foram marcadas pela violência quando o candidato Donald Trump foi atingido na orelha por um disparo de arma de fogo, enquanto discursava em um comício em Butler, Pensilvânia. Uma pessoa foi morta e outras duas ficaram feridas, o que incluía o atirador, Matthew Crooks, de 20 anos, morto segundos após os disparos por um sniper do Serviço Secreto.
A vitória de Trump estabelece-se em meio a uma série de acusações judiciais movimentadas contra ele. Réu em três processos, o presidente é acusado de tentar reverter de forma ilegal as eleições presidenciais de 2020, além de assédio sexual, por 18 mulheres, sendo três deles incluindo estupro. Também já foi condenado por fraude contábil após declarar como gasto de campanha um pagamento realizado a uma ex-atriz pornô.
Além disso, Trump encontra-se fortalecido após a onda republicana garantir maioria eleitoral no Senado, impondo obstáculos à oposição democrata.
A luta pelo fim da jornada de trabalho 6x1
PEC pelo fim da escala 6x1 visa garantir qualidade de vida para os trabalhadores brasileiros. Entenda como essa proposta afeta diretamente na economia
A redução da jornada de trabalho sempre fez parte da luta dos trabalhadores por todo o globo. No Brasil, a insatisfação com a jornada de 44 horas semanais e a escala 6x1, que concede aos trabalhadores um dia de descanso na semana, levou à criação do Movimento “Vida Além do Trabalho” (VAT), que defende a implementação da escala 4x3, sem a redução do salário e sem comprometer os benefícios dos trabalhadores.
A Proposta de Emenda Constitucional (PEC), que prevê o fim da escala 6x1, apresentada em maio pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), é a formalização da iniciativa do VAT. Ela sugere uma alteração no inciso XIII do artigo 7º da Constituição para que haja uma redução na jornada de trabalho para 36 horas, distribuídas em até quatro dias. O texto da deputada já ultrapassou o mínimo exigido, 171 signatários, para que uma PEC possa ser protocolada na Câmara dos Deputados.
Nas redes sociais, o tema ganhou muita visibilidade e se transformou em um fenômeno. Segundo levantamento feito pela Nexus Pesquisa e Inteligência de Dados, 67% das publicações são favoráveis à PEC. Esses dados demonstram que a pauta coletiva sobre o tema atravessa o posicionamento político-partidário individual e resulta na pressão popular sobre os parlamentares.
No âmbito político e econômico, alguns parlamentares conservadores e empresários criticam o projeto e afirmam que ele causaria prejuízos econômicos, aumento de custos e desemprego. A CNC (Confederação Nacional do Comércio) diz que a redução de horas trabalhadas implica também na diminuição do salário dos funcionários. A organização fala por mais de 4 milhões de empresas, responsáveis por 23,8 milhões de empregos diretos e formais.
No entanto, diversos países implementaram escalas mais brandas e humanas, e isso não ocasionou crises econômicas. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), as jornadas equilibradas aumentam a produtividade e o bem-estar dos trabalhadores, o que estimula a economia e o consumo de cultura e lazer, reduzindo os custos com saúde. Os estabelecimentos não funcionariam em um horário reduzido, a proposta é que haja uma organização das folgas e das escalas.
De acordo com um estudo realizado pela Universidade de Stanford, após 50 horas semanais, a produtividade cai consideravelmente. A redução da jornada de trabalho também pode acarretar em um número menor de demissões e custos associados a problemas de saúde por causa do trabalho.
O Ministro do Trabalho, Luiz Marinho, afirmou que a pauta sobre as cargas de horas trabalhadas deveria ser debatida por convenções e acordos trabalhistas já estabelecidos.