Enchente recorde devasta o Rio Grande do Sul  

Estado enfrenta a maior crise climática de sua história e pode levar anos para se recuperar economicamente 

O Rio Grande do Sul (RS) enfrentou em maio a maior crise climática de sua história, com impactos sociais e econômicos que podem se estender por anos. Chuvas intensas causaram enchentes em diversas regiões do estado e afetaram 476 dos 497 municípios gaúchos, incluindo a capital Porto Alegre, que desde 1941 não registrava uma cheia de proporções similares.


De acordo com o balanço da Defesa Civil, já haviam 172 mortes confirmadas em decorrência das enchentes. Há ainda 44 desaparecidos. Até o momento, mais de 2,4 milhões de pessoas foram afetadas pelas chuvas no RS, que chegou a ter mais de 650 mil pessoas desalojadas. A situação é de calamidade pública.


A dimensão das cheias é atribuída a uma concentração recorde de chuvas na região, causadas por um El Niño intensificado pelas mudanças climáticas em anos recentes. Em alguns locais do estado, o volume em 30 dias foi de até 800 milímetros, equivalente à média esperada para cinco meses


Mas, se a enchente era inevitável, seus estragos poderiam ter sido ao menos minimizados, afirmou o professor Rodrigo Paiva, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em entrevista à Agência Brasil. Para ele, e muitos outros críticos, o que faltou foi planejamento e manutenção adequada da infraestutura de contenção das cheias pelo poder público, em especial do Estado e dos municípios.


Em meio ao “tiroteio” político que se seguiu à inação no maior desastre climático do estado, o governador Eduardo Leite (PSDB) negou que tenha demorado a pedir a evacuação da população das áreas de risco. Apesar dos alertas meteorológicos indicarem risco de enchente nos grandes centros, Leite só tratou da evacuação de moradores do Vale do Taquari, uma das regiões mais afetadas, no dia 1º de maio, por meio de suas redes sociais. O governador ainda defendeu sua política ambiental, que incluiu uma série de mudanças na legislação estadual, como a sanção da lei que permite a construção de barragens em áreas de preservação permanente - essenciais para garantir o escoamento da água em casos de chuva, na avaliação de especialistas.


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, editou uma medida provisória que libera R$ 12 bilhões de reais para ações emergenciais no Rio Grande do Sul. O novo crédito extraordinário é destinado a ações que já haviam sido anunciadas pelo governo estadual, como a compra e distribuição de alimentos para a população afetada e a reposição de medicamentos que foram perdidos. Os recursos ainda devem ser aplicados para garantir o atendimento nos postos de saúde e hospitais.


A situação climática do RS destacou a necessidade de melhorias na infraestrutura de drenagem e sistemas de alerta para minimizar os impactos de futuros eventos de fortes chuvas na região. As mudanças climáticas e o aquecimento global aumentam a frequência e gravidade de eventos climáticos extremos, tornando essencial o planejamento urbano e fortes políticas ambientais de preservação e recuperação de reservas naturais. São ações que demandam comprometimento tanto do poder público quanto da iniciativa privada.



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Desilusão em relacionamentos freia aplicativos de namoro  

Com queda de 23% na ações desde 2023, plataformas promovem novas adaptações para evitar decepção amorosa dos usuários  

Para muitos, procurar pelo amor e a possibilidade de um relacionamento em 2024 é um desafio. Entretanto, para outros, o amor encontra-se encapsulado na tela do celular, contido em um ícone colorido, os famosos aplicativos de namoro. É certo que, com a digitalização crescente da sociedade, os relacionamentos humanos adquiriram novos contornos e possibilidades, intercruzando nacionalidades e estilos que não necessariamente se conheceriam em espaços do cotidiano. E, obviamente, os relacionamentos amorosos não fugiram dessa perspectiva.


Desde 2012, ano de criação do Tinder, o grande líder no mercado de relacionamentos online, diversos aplicativos surgiram. Patenteados pela Match Group, empresa norte-americana de negócios e relacionamentos online, aplicativos como Hinge, OkCupid e o próprio Tinder explodiram em downloads, prometendo as melhores experiências e amor eterno para seus usuários. 


Somente durante a pandemia de Covid-19, o uso de aplicativos de namoro aumentou 400%, majoritariamente pelo motivo de combater a solidão durante o período de isolamento social. O aumento do do uso se refletiu em um aumento de 47% no faturamento anual da Match Group, em 2021. Entretanto, a empresa registrou queda de 23% desde o terceiro trimestre de 2023, indicando declínio no seu número de usuários pagos. 


Segundo pesquisa da Consumoteca, realizada na Argentina, Brasil, Colômbia e México, 51% dos jovens de 17 a 24 anos afirmam nunca ter utilizado plataformas como Tinder, Bumble e Grindr para encontrar relacionamentos. Muitos dos entrevistados afirmaram não se sentirem confortáveis com as “vitrines fakes” promovidas por esses aplicativos, preferindo maneiras mais “orgânicas” para relacionarem-se. Essa preferência “anti-virtual” promovida pela geração nativa online incentivou a criação de outras plataformas, especificamente voltadas à faixa etária mais jovem e suas preferências. É o caso do Bumble, aplicativo de namoro e networking online, voltado não só à geração-Z, mas também ao público feminino que, consistentemente, vem se afastando do uso de aplicativos de namoro.


Segundo pesquisa realizada pela empresa de análise de mercado Mintel, 47% dos homens com idades entre os 18 e os 34 anos no Reino Unido utilizaram um site ou app de encontro no ano. Entre as mulheres, apenas 25% afirmaram fazer o mesmo. Os números trazem à tona questionamentos a respeito da real experiência de homens e mulheres ao envolverem-se em relacionamentos online e, principalmente, se ambos se encontram satisfeitos. 


Uma pesquisa de 2023 do Pew Research Center indica que não, ao constatar que mais da metade das mulheres com menos de 50 anos que usaram sites ou aplicativos de namoro receberam uma mensagem ou imagem sexualmente explícita não solicitada. Além disso, mais de 10% receberam ameaças de agressões. Sob essa perspectiva, aplicativos como o Bumble passaram a estabelecer normas de segurança, como por exemplo ao permitir apenas às usuárias do gênero feminino a função de iniciarem as conversas com seus respectivos parceiros. 


Tais medidas são tentativas de atrair os novos usuários, dada a pressão sobre as empresas do ramo para atrair novamente investidores, após declínio considerável. As ações do Match Group, hoje com valor de US$ 7,8 bilhões, e do Bumble, com US$ 1,5 bilhão, caíram mais de 80% em relação às de 2021, eliminando mais de US$ 40 bilhões e US$ 18 bilhões de seus respectivos valores de mercado.


Assim como vêm acontecendo com as redes sociais, depois do forte hype, da descoberta e do entusiasmo inicial, os usuários começam a se dar conta dos efeitos negativos do uso intensivo dessas plataformas e a buscar alternativas. Em resposta, as empresas se movimentam para atender às novas demandas e atrair de volta os usuários. Mas, como frequentemente acontece após o fim de um relacionamento, sem gerar o mesmo encanto.

Censo 2022 indica queda na taxa de analfabetismo no Brasil 

Apesar da redução para 7%, as discrepâncias raciais, econômicas e regionais permanecem 

A taxa de analfabetismo no Brasil caiu de 9,6%, em 2010, para 7% em 2022, segundo dados do IBGE, colhidos pelo Censo de 2022. Isso quer dizer que 2,5 milhões de pessoas com mais de quinze anos de idade deixaram de ser analfabetas no período. Há dez anos, eram 13,9 milhões de analfabetos. Hoje, são 11,4 milhões. Com a redução, o índice de analfabetismo no país chegou ao menor patamar desde 1940, quando 56% da população não sabia ler e escrever.  


No geral, a evolução mostra uma melhoria da inclusão no setor da educação brasileiro. No entanto, nos detalhes, ainda persistem discrepâncias na atual taxa de analfabetismo, relacionadas principalmente à etnia, idade e região de residência. 


O número de analfabetos entre pretos e pardos é o dobro do registrado entre brancos e, para os indígenas, o quádruplo. Entre as pessoas com 15 a 19 anos de idade, a taxa de analfabetismo, em 2022, era de 1,5%. Já no grupo com 65 anos ou mais, alcançava os 20,3%. Apesar do crescimento de 80,9%, em 2010 para 85,8%, em 2022, a taxa de alfabetização da região Nordeste ainda é a mais baixa do país. Cerca de 14,2% da população não sabe ler ou escrever, índice que representa o dobro da média nacional. Enquanto isso, regiões como o Sul e Sudeste apresentam taxas de alfabetização acima de 96%.


O grupo formado por pessoas com 65 anos ou mais foi o que apresentou maior queda na taxa de analfabetismo nos últimos três censos. Foram 17,7 pontos percentuais de redução. A redução indica uma valorização do processo de alfabetização nacional, especialmente para as camadas mais idosas da sociedade, representantes de gerações com menos acesso às salas de aula -- especialmente as mulheres.


No entanto, mesmo com os resultados positivos, o sistema de Educação de Jovens e Adultos (EJA) está em declínio acentuado. Em 2018, o número total de alunos na EJA era de 3.549.88. Já em 2022, o número caiu para 2.774.428, o que significa uma redução de 25% nos alunos matriculados. Destes, 77,5%  são estudantes pretos e pardos, enquanto 20,3% são brancos.


São números que demonstram que, apesar dos avanços das últimas décadas, o Brasil ainda tem muito a fazer na área de educação. Para além da inclusão de mais de uma dezena de milhões de pessoas, população equivalente à de Portugal, há o problema do analfabetismo funcional e da qualidade do ensino, principalmente em matérias como matemática e ciências

Isenção de imposto sobre importação volta à pauta  

Isenções fiscais sobre importações de até US$ 50 levantam uma série de discussões sobre isonomia no país  

A discussão sobre a isenção de imposto em importações de até US$ 50 voltou à reverberar no Congresso Federal em maio, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar que iria vetar a Medida Provisória (MP) caso ela fosse aprovada pelos deputados federais. Dias depois, o assunto foi votado dentro de um projeto de lei que institui o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), o que foi considerado um “jabuti” - a expressão é utilizada quando um tema de interesse de alguns congressistas é incluído na proposta de um assunto diferente.


A Câmara dos Deputados aprovou o texto do relator Átila Lira (PP-PI), que estipula uma taxação de 20% sobre o valor destes produtos. O texto foi, em seguida, aprovado no Senado, mas terá que voltar à Câmara para aprovação final.


Representantes da iniciativa privada nacional comemoraram a decisão, uma vez que ela atinge diretamente empresas internacionais de varejo - é o caso da Shein e Aliexpress, ambas empresas asiáticas. Mas, além da promoção da isonomia no varejo, há outra discussão de fundo, que envolve a cobrança de outra das partes interessadas no assunto, os consumidores. Em especial os de baixa renda. Não à toa, a taxa ficou conhecida popularmente como a “taxa da blusinha”.


Ao Poder360, o presidente afirmou que “Cada um tem uma visão a respeito do assunto. Quem é que compra essas coisas? São mulheres, em sua maioria, e jovens. E tem muita bugiganga. Eu nem sei se essas bugigangas competem com as coisas brasileiras. Nem sei. Mas temos dois tipos de gente que não pagam impostos. As que viajam e tem isenção de até US$ 500 no free shop, que tem mais isenção de US$ 1.000, e que são de classe média. Tem 24 milhões de pessoas que podem viajar mais do que uma vez por mês para o exterior. E o que você vai dizer para meninas e pobres que querem comprar uma bugiganga, um negócio de cabelo?”


Há discordância entre a própria base aliada do governo: enquanto uns defendem a isenção da importação para que se possa aumentar a arrecadação fiscal, outros se fortalecem na opinião da primeira-dama Janja Lula da Silva, que é contrária à tributação. Se por um lado a isenção do imposto beneficia pessoas de baixa renda, por outro compromete a geração de empregos no país, ao expor as varejistas brasileiras à concorrência de estrangeiras que não se submetem ao mesmo regime tributário.

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