Juros altos ocupam o centro do debate econômico

Taxas elevadas estão por trás de crises em diferentes setores econômicos no Brasil e no exterior

Um dos temas que têm monopolizado o noticiário político e econômico brasileiro é a taxa básica de juros, a taxa Selic. Em março, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma série de críticas ao Banco Central e ao seu presidente, Roberto Campos Neto, por mantê-la no patamar atual de 13,75%.


A taxa básica de juros é, tradicionalmente, o principal instrumento usado por Bancos Centrais de todo o mundo para combater a inflação. Ela serve de referência para os juros pagos pelo governo quando emite títulos públicos, uma das formas que tem para se financiar, além dos impostos. Serve também como referência para os juros cobrados por bancos na hora de emprestar dinheiro tanto às pessoas quanto às empresas.


Uma taxa Selic mais alta significa que o governo vai pagar mais por cada real que pegar emprestado de investidores. Significa também que, de modo geral, quem tem dinheiro para emprestar vai cobrar juros mais altos do que os pagos pelo governo. 


Por que isso importa? Porque com os juros mais altos, o custo final de qualquer empréstimo sobe para quem precisa de dinheiro, e muitas compras e investimentos deixam de valer a pena. Empresários interessados em expandir os negócios, adiam os planos. Quem queria trocar de geladeira, deixa para depois. 


Para quem tem dinheiro, torna-se mais fácil e seguro comprar títulos públicos do que investir em outras atividades. Em vez de construir prédios, fábricas, financiar startups, comprar ações de empresas ou emprestar dinheiro para que as pessoas possam comprar o que quiserem, é mais fácil e seguro emprestar ao governo, o único credor com poder de imprimir dinheiro.


Por isso, em geral, é melhor ter juros baixos. 

Mas, então, por que os bancos centrais elevam os juros? Quando a economia está muito aquecida, ou seja, quando todo mundo está comprando muito e há mais demanda do que oferta de produtos e serviços, as empresas tendem a contratar mais e a comprar mais matérias primas. No limite, a disputa entre elas por matérias-primas e por trabalhadores para atender aos pedidos faz com que os preços das matérias-primas e dos salários aumentem e gera ainda mais demanda por produtos e serviços.


Em cenários assim, o aumento da taxa Selic costuma funcionar para reduzir a inflação, porque tira de circulação dinheiro que está sendo usado no dia-a-dia para gerar mais demanda, seja por trabalhadores comprando ou por empresas comprando e investindo. Em outras palavras, a taxa Selic ajuda a equilibrar a oferta e a demanda, reduzindo a pressão pela alta de preços.


Os críticos à taxa Selic no patamar atual, como o presidente Lula, apontam que não é o caso do Brasil de hoje. Pelo contrário. O país vive um momento de baixa demanda. O desemprego segue alto e a população está comprando pouco. Por isso, recentemente, fábricas de automóveis deram férias coletivas, grandes varejistas tiveram prejuízo e dirigentes de entidades representantes da indústria vieram a público reclamar dos juros altos.


Eles argumentam que o que estaria gerando a inflação atual, não só no Brasil, mas também em outras partes do mundo, são problemas do lado da oferta, e não da demanda. Primeiro, os causados pela pandemia, quando as pessoas em casa passaram a comprar mais e a China, fornecedora de boa parte dos produtos, colocou cidades inteiras e portos em quarentena. Depois, os causados pela Guerra da Ucrânia, que afetou os preços dos combustíveis e de produtos agrícolas globalmente.


Já quem defende os juros altos, como o presidente do Banco Central, Campos Neto, avalia que a taxa Selic só deve cair quando o governo apresentar um plano de controle de gastos públicos que o mercado considere confiável. Sem controle de gastos, avaliam Campos Neto e representantes do mercado, o governo em algum momento vai estar gastando tanto que terá que imprimir dinheiro sem controle para pagar as contas, o que também gera inflação. E que a taxa Selic alta é uma forma de conter as expectativas de inflação futura, que afetam o mercado.


A grande questão, rebatem o governo e os críticos da política de juros altos do Banco Central, é que quanto mais elevada a taxa Selic, maiores os gastos públicos com juros, e menor o espaço no orçamento para que o governo invista em saúde, educação e em obras de infraestrutura que aumentem a competitividade do país e aqueçam a economia, ajudando a gerar empregos e renda.


Trata-se de um debate que tende a se estender, uma vez que não há consenso sobre a melhor alternativa a ser seguida.




Saiba mais:

Novos avanços na IA impressionam e preocupam

Carta aberta pede suspensão no treinamento de sistemas mais potentes que o GPT-4 e TikTok anuncia regulação de conteúdo 

O rápido avanço da tecnologia artificial nos últimos meses e seus potenciais efeitos sociais, políticos e econômicos já foi suficiente para colocar figurões da tecnologia e redes sociais na defensiva.


Em março, o TikTok anunciou uma revisão de suas diretrizes de comunidade. Entre as principais mudanças estão a exigência de que os conteúdos produzidos ou modificados por inteligência artificial sejam rotulados como tal. 


Poucos dias depois, um grupo encabeçado por nomes como o bilionário Elon Musk, fundador da Tesla e da Space-X, e Steve Wozniak, co-fundador da Apple, divulgou uma carta aberta. O documento pede a suspensão, por pelo menos seis meses, do treinamento de inteligências artificiais mais potentes que o GPT-4, para que os impactos sociais, políticos e econômicos de novidades como o ChatGPT e o Wall-e possam ser melhor avaliados. Pede também uma regulação estatal da tecnologia. 


Entre os receios dos signatários da carta, estão a proliferação da desinformação e os impactos econômicos sobre os níveis de emprego, uma vez que as novas ferramentas de IA sejam usadas para substituir o trabalho realizado por humanos.

Direita radical sobrevive a Bolsonaro

Falas transfóbicas de deputado no dia da mulher e o alcance de influenciadores misóginos são sinais de resiliência do movimento 

O discurso transfóbico do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) na tribuna da Câmara, no dia da Mulher, e o alcance de influenciadores misóginos, como o Thiago Schutz, que ameaçou recentemente a atriz e humorista Livia La Gatto depois de uma satíra feita por ela, são sinais da resiliência da direita radical no Brasil, mesmo com a derrota de Jair Bolsonaro nas urnas. 


O deputado foi repreendido pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e está sendo processado por outro caso de conduta transfóbica, racismo e injúria racial envolvendo a deputada Duda Salabert (PDT-MG). Schutz foi proibido pela Justiça de se aproximar e de falar com Livia La Gatto. Mas ambos seguem fortes e ativos nas redes sociais, com milhões e centenas de milhares de seguidores, respectivamente.


Reflexo da postura de Ferreira, adotada antes mesmo da fala no plenário da Câmara, foram apresentados pelo menos 69 projetos de lei anti trans no Brasil, apenas neste ano. Segundo a Folha de S.Paulo, responsável pelo levantamento, o número inclui iniciativas nas esferas municipal, estadual e federal.


Schutz, em particular, é um dos expoentes declarados de uma onda de grupos digitais misóginos, como Red Pill, MGTOW, Incel, Sigma e Alfa, que cresce no país através das redes sociais. São todos movimentos que não aceitam o avanço de minorias, do feminismo e dos direitos das mulheres.


A resiliência de pautas da direita radical é sinal de que, apesar de derrotadas nas urnas em 2022, muitas ideias defendidas por ela continuam a ter apelo entre estratos da população e podem voltar a ter peso em eleições futuras.

Violência nas escolas choca o país

Professora morta em São Paulo e ataque a creche em Blumenau levantam discussão sobre como lidar com o problema

Os assassinatos da professora Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, em São Paulo, e de quatro crianças em uma creche em Blumenau, no início de abril, reacendeu as discussões sobre segurança nas escolas, as causas dessa violência e como combatê-la. Os episódios não guardam relação direta entre si, mas apontam para uma tendência alarmante. Desde o massacre de Realengo, no Rio de Janeiro, em abril de 2011, houve ao menos outros doze ataques a creches e escolas no Brasil. Na maior parte dos casos, os agressores eram alunos ou ex-alunos das escolas.

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