De manhã saio em Olhão deslumbrado. Céu azul-cobalto - por
baixo, chapadas de cal. Reverberação de sol, e o azul mais azul, o
branco mais branco. (…) [Raul Brandão, Os Pescadores, Círculo de
Leitores, p. 174].
Também esta manhã, as turmas 5.ºB e 8.ºF da nossa escola, acompanhados pelos diretores de turma e professores dos conselhos de turma, saíram da escola para uma visita guiada pela cidade de Olhão. Esta atividade teve como objetivos conhecer alguns dos acontecimentos que tiveram lugar no período denominado Primeira República bem como personalidades dessa época, além de aprender a valorizar o património local, percorrendo ruas, apreciando edifícios, avivando memórias e (re)conhecendo espaços e sua toponímia.
Aqui fica a notícia do que do que fizemos, de acordo com o roteiro planificado pela professora Cristina Madeira que deu a voz a este passeio:
Roteiro “Da República e Grande Guerra” – locais visitados
. Rua Dr. Estêvão de Vasconcelos - Bairro da Cavalinha
. Rua Raul Brandão
. Avenida Dr. Bernardino da Silva, incluindo o antigo Hospital de Olhão, hoje Biblio- teca Municipal Mariano Gago
. Jardim João Serra / Avenida Combatentes da Grande Guerra
Descemos a Avenida da República, onde, no exato local, fizemos referência à Sociedade Recreativa Progresso e nos detivemos junto à placa que indica onde, em 1918, faleceu o conceituado advogado e poeta olhanense João Lúcio, vítima da gripe espanhola. (foto em anexo). Também parámos em frente do busto do cónego António Baptista Delgado, mais conhecido por Padre Delgado que, nesta conjuntura hostil à igreja católica, se fixou na então Vila da Restauração, promovendo uma grande obra de caráter social. Na continuação da visita, passámos pela Rua Miguel Bombarda e ruas perpendiculares e, nas proximidades, pela Rua Teófilo de Braga, primeiro Presidente do Governo Republicano. Uns passos mais adiante, entrámos na Bairro da Barreta pela Rua 31 de Janeiro. Este nome é particularmente interessante, já que é alusivo ao “31 de Janeiro do Porto de 1891”, a primeira tentativa de implantação da República no país.
Seguimos por um novelo de ruas pelos dois bairros típicos, o da Barreta e o da banda do Levante. A boca negra dum arco e outra rua tortuosa onde a luz não penetra. Algumas têm nomes que as pintam: a Rua dos Abraços, (…) [Raul Brandão, Os Pescadores, Círculo de Leitores, p. 180].
E também nós nos perdemos no emaranhado de ruas, ruelas, travessas, becos e largos, todos com nomes típicos que recordam pessoas e eventos de Olhão.
Seria uma tarefa interminável referir a toponímia curiosíssima desta zona histórica de Olhão. Importa mencionar de novo a célebre Travessa dos Abraços e seria injusto não recordar as palavras de António Macheira sobre a Barreta:
Todas estas ruas, estas travessas, estes becos estão povoados de lendas, de mistérios, de casos pitorescos, de tradições. A quase hipotética Travessa dos Abraços; a esquina onde “parecia” a moura Floripes a seguir os pescadores; o “menino dos olhos grandes” que tanto atemorizava as velhas beatas (…) Tanta coisa! Tantas recordações! E as figuras típicas. As velhas com os seus albornozes pretos de rosto escondido, que passavam por nós como sombras fugidias (…). [António Macheira, Até amanhã, meu filho, p. 123].
Não é difícil imaginar que muitas das personagens que povoam os contos de António Macheira por aqui andaram. O Janica, com certeza, jogou ao berlinde por estas ruas e o Chico e o Balé, também. Por estas bandas estiveram escondidos ou fugidos e num qualquer poial, bem encostados “ombro com ombro, braço com braço, anca com anca para se aquecerem” do “inverno agreste”, traçaram o seu plano fuga para Marrocos. Certamente, nestas vielas e becos, namorados estiveram à janela ou combinaram furtivos encontros e, nas noites de S. João, nos mastros dos largos, Alice e João, personagens do conto Noite de Sonho, Noite de Mistério, Noite de Amor, trocaram juras de amor.
Por fim, o passeio continuou pela Avenida 5 de Outubro, pela Rua Dr. Francisco Fernandes Lopes e Rua Capitão Carlos da Maia.
Os vídeos e fotos captados ao longo do trajeto atestam alguns desses momentos, registando a nossa vivência e a descoberta da história de Olhão. Os professores acompanhantes da visita, Cristina Madeira, Luís Sousa, Mónia Mesquita, Patrícia Graça, Paulo Penisga e Salomé Parra, usufruíram da visita quer como olhanenses, revisitando memórias, quer como curiosos por uma terra nova, revelando-se este passeio uma oportunidade de se envolverem com a história local, descobrindo pormenores e histórias que, muitas vezes, só quem é de Olhão conhece. Através das ruas e ruelas, edifícios, memoriais e placas, acabaram por criar uma ligação genuína com a cidade, com os seus alunos, sentindo-se um pouco mais próximos das tradições e memórias que fazem de Olhão um lugar único.
Edição de texto e imagem: Cristina Madeira, Mónia Mesquita e Salomé Parra.