13 de maio de 2025
Grande entrevista à professora Ana Paula Almeida
“…invistam no vosso futuro, sejam responsáveis, respeitem os outros, saibam respeitar as diferenças.”
Qual foi o motivo ou o que a inspirou a ser professora?
Sempre quis ser professora, porque sempre gostei muito da escola e sempre gostei muito de aprender coisas novas. A única coisa que mudou foi a disciplina em relação à qual queria ser professora. Inicialmente, queria ser professora de Matemática. No entanto, como no meu tempo as raparigas não podiam estudar o que queriam, nem quando queriam, nem como queriam, a minha mãe achou que ir para a área de Ciências não era uma coisa de raparigas. Deveria ir para a área de Línguas e, portanto, não fui professora de Matemática e fui professora de Línguas.
Começou a dar aulas com que idade?
Comecei a dar aulas aos vinte anos. Há quarenta e seis anos.
Quais foram os desafios que mais enfrentou na sua profissão?
Foi ser capaz de lutar por aqueles alunos que, às vezes, não querem aprender, mas passados alguns anos, temos a satisfação de ver ex-alunos já adultos que têm um lugar na sociedade e que vêm agradecer pelo facto de não termos desistido deles. E não desistir de um aluno não é facilitar-lhe a vida, dando positiva quando não a merece. É levá-lo a trabalhar, a aprender para desenvolver competências e capacidades. Esse é o grande desafio de um professor.
Como sabemos, foi professora de Francês e fez várias visitas de estudo. Pode contar-nos uma situação caricata numa dessas visitas?
Olha, deixa-me pensar… Uma situação caricata… Posso trocar isso por uma situação aflitiva?
Pode, claro.
Então, foi quando, numa das principais avenidas de Paris, a Avenida dos Campos Elísios (Avenué des Champs-Élysées), demos pela falta de um aluno. Foi muito aflitivo. Felizmente, encontrámo-lo logo a seguir, porque eles tinham um cartãozinho com o nome deles, o número de telefone e os contactos, mas ainda andamos ali um “bocadinho” perdidos.
Caricata foi uma viagem de avião que nós fizemos com um aluno que usava o cabelo espetadinho com gel. Então, ele levantou-se constantemente para ver uma colega por quem estava apaixonado e, sempre que se levantava, o cabelo espetado ativava o chamamento da hospedeira de bordo.
Como pessoa, como se caracteriza?
Como eu me caracterizo? Como todas as pessoas, tenho qualidades e defeitos. Defeitos, sou um bocadinho teimosa. Como qualidades, acho que sou muito trabalhadora e não desisto à primeira, tento sempre vencer os obstáculos.
Quais são as coisas que mais vai sentir saudades depois de se reformar?
Vou sentir saudades dos alunos, vou sentir saudades da escola, vou sentir saudades da Biblioteca Escolar, vou sentir saudades de toda esta agitação que é a vida de um professor.
Depois de tanta dedicação em desafios e trabalhos, acha que falta cumprir mais algum?
Falta sempre cumprir mais qualquer coisa. Achamos sempre que devíamos ter feito um bocadinho diferente, podíamos ter feito um bocadinho melhor, portanto, falta sempre qualquer coisa.
O seu amor pela leitura e pela escrita nunca a fez pensar em escrever algum livro?
Curiosamente, gosto muito de ler, mas sei que não sou grande escritora. Escrevo algumas coisas, umas coisas sem grande valor.
Qual é a sua opinião sobre os jovens lerem cada vez menos?
Não sei se isso é verdade. Acho que depende das idades. Não sei se leem menos. Há jovens que são muito bons leitores. Na nossa escola, às vezes, há alunos que, no quinto, sexto ano, são leitores medianos e que chegam ao nono ano a ler obras com uma certa dimensão, com uma certa profundidade. Por isso, não sei se hoje se lê menos do que há uns anos; não sei se isso é completamente verdade.
Qual é o seu livro favorito e porquê?
Há muitos, mas há um de que eu gosto muito, que é o Velho que Lia Romances de Amor, de Luis Sepúlveda, que é um livro excecional. É um livro que eu tive dificuldade em acabar de ler, porque não queria que acabasse. Então, lia só um bocadinho todos os dias, porque sabia que o podia voltar a ler, mas a segunda leitura já não tinha aquele efeito da descoberta que nos dá a primeira leitura. É um livro espetacular que, curiosamente, aborda as vantagens da leitura, mas também o respeito pela natureza.
Acha que há algum livro que já leu, que iria fazer uma revolução na sociedade ?
Há livros que eu acho muito interessantes, por exemplo, as obras de Isabel Allende que nos falam muito do papel da mulher na sociedade e acho que todas as mulheres deviam ler alguns livros dela, como As Mulheres da minha vida e Violeta. Acho que sim, que as mulheres deviam ler esses livros e rever-se naquilo que são e naquilo que podem fazer numa sociedade.
O que gostaria que lhe perguntassem e nunca o fizeram?
Sinceramente, não me lembro de nada, já me perguntaram tanta coisa… Há coisas que podemos sempre responder, há outras que, às vezes, nem sequer devemos responder.
No mundo da educação, o que a faz mais feliz?
No mundo da educação? Ver alunos que trabalham, que são responsáveis e que investem seriamente no seu futuro. A nossa sociedade precisa de pessoas bem preparadas para enfrentar os desafios que aí vêm. E é isso que me faz feliz, ver jovens preparados para o que aí vem. O modo como a sociedade está a evoluir vai trazer muitos desafios aos alunos, vai trazer muitos desafios aos jovens, e é preciso que eles estejam preparados para os enfrentar com responsabilidade e civismo.
Quer deixar alguma mensagem para nós, alunos?
Invistam no vosso futuro, sejam responsáveis, respeitem os outros, saibam respeitar as diferenças.
Obrigada, professora Paula.
Entrevista gravada, em dezembro de 2024, por:
Beatriz Duarte; Margarida António e Maria João Gonçalves, alunas do 8.º A.