APRESENTAÇÃO:

 

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

FACULDADE DE CIÊNCIAS

CAMPUS DE BAURU

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO PARA A CIÊNCIA

Rodolfo Langhi

ASTRONOMIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: REPENSANDO A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

 

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência, Área de Concentração em Ensino de Ciências, Faculdade de Ciências, da UNESP/Campus de Bauru, como um dos requisitos à obtenção do título de Doutor em Educação para a Ciência, sob a orientação do Prof. Dr. Roberto Nardi.

 

Banca Examinadora:

Presidente: Prof. Dr. Roberto Nardi

Instituição: UNESP / Bauru

 

Titular: Prof. Dr. Sérgio Mascarello Bisch

Instituição: UFES

 

Titular: Profa. Dra. Rute Helena Trevisan

Instituição: UEL

 

Titular: Profa. Dra. Odete Pacubi Baierl Teixeira

Instituição: UNESP / Guaratinguetá

 

Titular: Prof. Dr. Washington Luiz Pacheco de Carvalho

Instituição: UNESP / Ilha Solteira

 

Suplente: Prof. Dr. Roberto Boczko

Instituição: IAG / USP

 

Suplente: Prof. Dr. Paulo César de Almeida Raboni

Instituição: UNESP / Presidente Prudente

 

Bauru, 05 de novembro de 2009.

 

 

APRESENTAÇÃO

Para que ensinar astronomia nas escolas? Sendo uma ciência que estuda os astros tão distantes de nós, que benefícios a astronomia poderia trazer aos humanos, enquanto seres tão relativamente minúsculos sobre a superfície deste planeta?

Tudo o que sabemos dos astros começou a ser estudado desde épocas bem remotas. Ao contemplar a beleza de um céu extremamente estrelado, alguns começaram a levantar questões bem interessantes, movidos pela curiosidade: o que é o universo? Qual é o seu tamanho? Que posição ocupamos nele? De onde viemos? Para onde vamos? Há vida em outros planetas? Por que estamos aqui? Talvez você mesmo já tenha se perguntado sobre isso. Diferentemente dos animais, a curiosidade inerente do ser humano fez com que ele buscasse respostas que explicassem o que acontece no céu. Deste modo, a astronomia faz parte, hoje, de nossa vida diária: as estações do ano, o suceder do dia e da noite, as fases da Lua, as divisões do calendário, a energia do Sol que sustenta a vida, além de muitos objetos utilizados resultantes do desenvolvimento da tecnologia aeroespacial, como por exemplo, as fraldas, o relógio digital, as câmeras digitais, a miniaturização de componentes eletrônicos, a engenharia de alimentos, etc. Ademais, várias outras áreas do saber humano (que viraram disciplinas nas instituições de ensino) foram supridas com informações e inspirações provenientes da astronomia: a física, a química, a biologia, a história, a geografia, a navegação, a filosofia, a sociologia, a música, a poesia, a literatura e muitas outras. Por isso, dizemos que a astronomia é interdisciplinar.

Ao tentarmos compreender o universo, aprendendo conceitos básicos de astronomia, desenvolvemos, em nosso íntimo, a satisfação, o interesse, a apreciação e a aproximação pela ciência geral, derivando prazer em entender um pouco o ambiente que nos cerca, seja dentro ou fora do planeta. Só aprendendo astronomia, percebemos a nossa pequenez diante do universo, mas, ao mesmo tempo, notamos que somos os únicos seres que tentamos nos aprofundar nele com nossa inteligência, numa busca incansável pelo conhecimento, uma vez que se preserva, no íntimo humano, o desejo e a necessidade de ampliar seus limites do saber, abrangendo lugares tão distantes quanto os limites do cosmo.

Além disso, a astronomia é apaixonante por si mesmo, evocando admiração e reverência no mais profundo íntimo do ser humano, ao simplesmente contemplar um céu estrelado. Quem não se impressiona ao observar a estética e a beleza dos corpos celestes, seja a olho nu ou através de telescópios, bem como as fantásticas imagens astronômicas obtidas por instrumentos específicos? Há também o fato de que a astronomia demonstra claramente o quanto as dimensões do saber humano estão limitadas à utilização de recursos resultantes da tecnologia contemporânea, isto é, só nos é possível conhecer o universo até onde nossa parafernália tecnológica alcança. E quando nos satisfazemos em conseguir encontrar, a duras penas, a resposta a uma questão importante sobre o cosmo, subitamente parecem surgir mais uma dúzia delas.

Nas escolas, a astronomia promove este excitante papel motivador, tanto para alunos como para professores, pois, ao tocar neste assunto, a maioria dos jovens costuma desencadear uma enxurrada de perguntas sobre buracos negros, origem do universo, vida extraterrestre, tecnologia aeroespacial, etc. Este entusiasmo abre a oportunidade para o professor trabalhar, de modo interdisciplinar, as demais matérias escolares. Além do aspecto motivacional, a astronomia assume um papel diferenciador, que a pode distinguir das outras ciências, conferindo-lhe um certo grau “popularizável”, favorecendo a cultura científica, uma vez que o seu laboratório é natural e gratuito, estando o céu à disposição de todos, facilitando a execução de atividades ao ar livre e que não exigem materiais custosos.

A astronomia oferece, ao aluno, a oportunidade de ter uma visão global de como o conhecimento humano é construído ao longo dos séculos, passando por mudanças de paradigmas de pensamento. Por exemplo, há muito tempo, pensadores afirmavam e ensinavam que a Terra era o centro do universo. Esta concepção era um modelo elaborado para conseguir explicar os fenômenos que aconteciam no céu. No entanto, novos pensadores descobriram melhores explicações e o modelo científico teve de ser substituído. E hoje? Será que temos certeza definitiva das explicações fornecidas pela ciência? O que ela ensina hoje pode mudar amanhã. O que atualmente sabemos não é eterno. Assim, ensinar as mudanças de pensamento que a astronomia sofreu, ao longo da história, pode ajudar na compreensão de que a ciência também “falha”, jamais sendo a dona da verdade absoluta.

Ensinar astronomia pode desmistificar algumas idéias de senso comum sobre fenômenos que acontecem no céu, libertando o aluno de certos temores e ignorância, como, por exemplo: os eclipses e o que eles causam; o aparecimento misterioso de objetos brilhantes e desconhecidos no céu; o eventual impacto destruidor de um cometa na Terra; o apagamento do Sol; as “estrelas cadentes”; a influência dos astros na vida e na personalidade dos humanos.

Apesar da evidência destes benefícios do ensino da astronomia, parece haver um descaso quanto à abordagem deste tema na educação brasileira. Uma análise sobre a história mostra como a astronomia sofreu uma gradual dispersão e quase desaparecimento dos currículos escolares. Nem mesmo o professor brasileiro do ensino fundamental e médio, na maioria dos casos, aprende conteúdos de astronomia durante a sua formação na faculdade. Como conseqüência, os professores, em geral, optam por duas alternativas: preferem não ensinar astronomia ou buscam outras fontes de informações. Porém, há carência de fontes seguras sobre astronomia, pois até mesmo livros didáticos apresentam erros conceituais. A mídia é escassa em documentários sobre este tema, e muitas vezes prefere exagerar no sensacionalismo em notícias que envolvem assuntos sobre o espaço sideral. Não temos uma quantidade suficiente de planetários, observatórios, museus de ciências e associações de astrônomos amadores que poderiam servir de eficiente apoio ao ensino de astronomia nas escolas. Deste modo, ocorre uma constante perda de valorização cultural e falta do hábito de olhar para o céu, reforçado pelo estilo de vida cada vez mais urbano e pelo excesso de iluminação pública mal direcionada, causando a poluição luminosa, que ofusca a maior parte das estrelas no céu, além de trazer desperdício de energia elétrica e conseqüências ao meio ambiente.

Portanto, por estes motivos principais, a astronomia deve ser trabalhada na educação básica. Ela nos ajuda, afinal, a compreender a natureza humana e nos desperta para a responsabilidade planetária individual, enquanto um ser habitante do único corpo celeste conhecido que pode nos abrigar vivo.

 

 

Este texto é parte integrante da tese de doutoramento:

LANGHI, R. Astronomia nos anos iniciais do ensino fundamental: repensando a formação de professores. 2009. 370 f. Tese (Doutorado em Educação para a Ciência). Faculdade de Ciências, UNESP, Bauru, 2009.