4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme mostraram os resultados desta pesquisa, segundo seus objetivos, a formação de professores precisa sofrer alterações se desejarmos que processos efetivos de ensino-aprendizagem em astronomia aconteçam com mais freqüência e qualidade. Expressando esta preocupação, debruçamo-nos sobre a busca dos principais elementos formativos que um programa de educação continuada em astronomia poderia contemplar a fim de fornecer subsídios para a construção da autonomia nos professores dos anos iniciais do ensino fundamental. Reconhecendo que tais elementos formativos só se manifestariam a partir de uma investigação de um curso desta natureza, nossa proposta se concretizou mediante a elaboração de uma metodologia específica que abarcou uma pluralidade de técnicas de levantamento e análise de dados (MEPPFOCO), cujo mote é tanto o ensino quanto a pesquisa.

Os resultados de nosso trabalho indicaram que um curso de curta duração (em geral, denominado de “formação continuada”), estruturado para contemplar resultados de pesquisa sobre educação em astronomia, pode fornecer subsídios para a construção de saberes docentes condutores a trajetórias formativas que lhes apontem alguns indícios de autonomia para o ensino deste tema (segundo o dispositivo de análise sintetizado na figura 01). No entanto, devido principalmente ao componente que denominamos de diligência subjetiva, não é possível garantir que a autonomia seja, de fato, construída por todos os participantes. Por outro lado, à medida que analisávamos as transcrições dos encontros e as respostas anônimas escritas às perguntas exibidas para a amostra, exploramos os principais elementos formativos, utilizando uma metodologia dotada de aspectos tanto formativos quanto investigativos. Deste modo, obtemos subsídios com a finalidade de repensar a formação de professores em relação ao ensino deste tema nos anos iniciais do ensino fundamental.

Ao se apresentar o panorama brasileiro da educação em astronomia no Brasil, torna-se transparente o quanto esta área é incipiente, embora se demonstre um interesse maior por esta pesquisa nos últimos anos. Alertamos, assim, para o fato de a educação em astronomia compor-se ainda em um campo fértil para investigações no Brasil. Fornecemos, portanto, alguns exemplos e sugestões para futuros trabalhos que poderão contribuir para a pesquisa sobre educação em astronomia:

As sugestões acima visam futuros trabalhos de pesquisa. No ínterim, neste trabalho, elencamos os principais elementos formativos em linhas congruentes que podem ser explorados durante a elaboração de programas de formação docente em astronomia, levantados durante a utilização de uma metodologia dotada de aspectos tanto formativos quanto investigativos (MEPPFOCO). Reconhecemos, contudo, que atividades desta natureza não podem se descontextualizar dos resultados de pesquisas sobre a educação em astronomia produzida no Brasil. Por isso, procuramos fornecer um retrato geral da atual condição da educação em astronomia em nosso país, através de uma revisão da literatura de referência. Além disso, pudemos estudar problemas e perspectivas específicos a este respeito por meio da fundamentação teórica e da análise dos dados levantados nesta pesquisa, segundo representações de uma amostra de professores em atividades de formação continuada, visando repensar a formação de professores.

No entanto, expressamos a nossa descrença com relação a mudanças na estrutura curricular de cursos de formação inicial em favor da inserção de tópicos de astronomia introdutória. Por isso, acreditamos que a direção seja o investimento na elaboração de programas de formação continuada, conforme indicaram os resultados da análise dos dados constituídos. E, embora não se exija do docente o domínio completo de astronomia para o seu trabalho, persistimos na idéia de que se devem contemplar certos conteúdos básicos e fundamentais (que denominamos de astronomia essencial) sobre este tema durante a sua formação, seja ela inicial ou continuada, devido à sua reincidência freqüente nos estudos sobre concepções alternativas em astronomia e, por serem estes os conceitos fundamentais para a construção dos demais saberes disciplinares em astronomia.

Por fim, lembramos que, no Brasil, parece haver uma acomodação (embora não generalizada) dos grupos, sociedades, universidades, associações, observatórios e planetários, no sentido de se envolver mais comprometidamente em ações que contribuam para reformas educacionais a fim de se inserir conteúdos de astronomia introdutória na formação de professores. Como mostram as experiências dos outros países, resultados positivos aparentemente foram obtidos com relação ao ensino deste tema, quando sociedades e grupos de astronomia (amadores e/ou profissionais) persistiram em apresentar aos órgãos oficiais governamentais do setor educacional a importância da educação em astronomia fundamental para as crianças, jovens e adultos. Pouco avançamos neste sentido, haja vista a quantidade reduzida de pesquisas e produções bibliográficas nacionais sobre educação em astronomia, levando em conta as dimensões espaciais e temporais de nosso país. Procrastinamos quanto ao momento de promover uma mudança na estrutura curricular para a inserção da astronomia, considerando-se os exemplos internacionais. Um modelo mais ativista de formação (GARCIA, 1999; ZEICHNER, 1993; PÓRLAN e RIVERO, 1998) não se permitiria permanecer nos moldes passivos educacionais, determinados de “cima para baixo” (PERRENOUD, 1999; ZEICHNER, 1993), incentivando, assim, a colaboração ativista e idealista entre professores, pesquisadores em ensino de ciências e entidades ligadas à astronomia, visando unir esforços para encorajar transformações a favor da educação em astronomia no Brasil.

 

Este texto é parte integrante da tese de doutoramento:

LANGHI, R. Astronomia nos anos iniciais do ensino fundamental: repensando a formação de professores. 2009. 370 f. Tese (Doutorado em Educação para a Ciência). Faculdade de Ciências, UNESP, Bauru, 2009.