O autor deste portal não concorda com o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011. Por isso, faz questão de manter a ortografia anterior ao referido A. O. nos textos aqui publicados.
Não obstante, respeitará a nova ortografia nos textos que lhe forem enviados, se essa for a vontade e o desejo dos seus autores.
Guarde estas dicas num “estojo de primeiros-socorros linguísticos” e nunca se esqueça: Escrever bem é uma tarefa difícil, mas possível!
Grande parte do sucesso de um texto está, sem dúvida, na sua planificação. Tal como um arquitecto não começa nenhuma obra sem a projetar primeiro, assim devemos proceder quando temos de escrever um texto, seja uma carta de apresentação, um e-mail profissional ou um artigo científico.
Quais são, então, os passos a dar para se construir um bom texto?
1 – Definir o tipo de texto que se vai escrever e os seus objetivos em função do destinatário.
2 – Fazer uma lista (ou esquema) das ideias ou tópicos, sem qualquer preocupação de ordem.
3 – Organizar esses tópicos, selecionando os relevantes e eliminando os supérfluos.
4 – Estruturar o texto em três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão e incluir em cada uma destas partes os tópicos selecionados.
Se deseja escrever bem, fazer um plano é, seguramente, o mapa orientador do caminho da escrita.
As palavras são a matéria-prima da comunicação. Por isso, devemos escolhê-las criteriosamente em função do nosso interlocutor. Escrevemos para quem nos lê e, por isso, devemos colocar o interesse do leitor acima de tudo.
Para que qualquer texto seja eficaz e cumpra o seu objetivo, as palavras não devem ser difíceis e desconhecidas, uma vez que dificultam a compreensão da mensagem e desmotivam quem o lê. Por exemplo, para quê usar a palavra inviabilização se pode optar por impedimento? Ou porquê escolher o verbo agudizar se o verbo piorar é muito mais simples? Evite o uso exibicionista de palavras demasiado eruditas e complicadas e opte sempre por palavras simples, comuns e reconhecidas instantaneamente pelo leitor.
Escolher as palavras certeiras e eficazes é a garantia do sucesso do seu texto.
Escrever bem é também, e sobretudo, ser capaz de captar a atenção de quem o lê. Textos longos e demasiado palavrosos são a desculpa perfeita para o leitor desistir da leitura. Por isso, se quer prendê-lo do princípio ao fim, então, seja claro, breve e objetivo!
A clareza é, sem dúvida, uma qualidade central de uma comunicação escrita eficaz! Quem lê quer compreender de imediato o que lê; quer evitar voltar atrás vezes sem conta; quer ler com prazer e sem esforço. Frases demasiado longas dificultam o processamento da mensagem. Por isso, use frases curtas, na ordem direta (sujeito, predicado, complementos), para serem facilmente entendidas logo na primeira leitura.
Intercalações intermináveis, frases dentro de outras frases são um terreno pantanoso que nenhum leitor quer percorrer. Ele até poderá saber onde está o sujeito, mas ficará seguramente a percorrer um interminável labirinto até encontrar o predicado!
Facilite a vida ao seu leitor. Ele ficar-lhe-á muito agradecido!
Outra qualidade central de um texto é a sua coesão. Para que o seu texto seja uma unidade coesa e não um conjunto de frases soltas e “descosidas”, devemos recorrer a palavras que assegurem a articulação lógica entre as frases e os parágrafos. Essa articulação é conferida pelos articuladores discursivos, que são palavras que têm por função encadear as ideias de um texto, dando-lhe um fio condutor. Vejamos alguns dos mais frequentes:
Para expressar opinião: “a meu ver, do meu ponto de vista, considero que…”; para dar ênfase: “efetivamente, com efeito, na verdade…”; para fazer uma chamada de atenção: “considere-se, atente-se, observe-se…”; para mostrar oposição: “embora, no entanto, porém, contudo, todavia…”. E para concluir: “em suma, concluindo, finalmente…”.
Estes são alguns dos conectores que permitem um encadeamento lógico entre as frases e os parágrafos, facilitando a compreensão do texto ao seu leitor.
Outro mecanismo que assegura a coesão textual é a pontuação. A pontuação é o tempero do texto, mas mal usada pode ser um autêntico dissabor. Quando o leitor tropeça num sem-número de vírgulas, parênteses e travessões, acaba por perder o fio condutor da leitura.
E vírgulas a menos podem também ser um grande problema: podem alterar de forma drástica o sentido de uma frase. Se não colocarmos vírgulas na frase “O marido da Ana que trabalha no Porto chega hoje”, ficamos a pensar que a Ana tem mais do que um marido! E atenção à regra proibida mais importante: nunca separe por vírgula o sujeito do predicado, nem o verbo dos seus complementos! Nunca!
Memorize este princípio: os elementos centrais da comunicação nunca se separam por vírgula. E a máxima “less is more” funciona muito bem quando falamos de pontuação.
Um texto pode estar irrepreensivelmente bem escrito, respeitando todas as regras ortográficas, sintáticas, de pontuação e ainda assim não causar qualquer impacto no leitor.
Qualquer tipo de texto tem uma intenção: um texto didático ensina; uma notícia informa; um romance emociona, etc., etc. Para que cada um destes objectivos seja alcançado, o texto deve conter marcas estilísticas que toquem e inspirem o leitor e, em certos casos, o levem a realizar uma determinada acção.
A língua dispõe de vários mecanismos que contribuem para o embelezamento e impacto de um texto. Objectivo? Tão-somente embelezar e valorizar!
Um dos recursos estilísticos mais eficazes na comunicação é a metáfora, que tem como propósito atribuir um sentido figurado às palavras. Eis um exemplo elucidativo:
Sentido literal: Escrever bem é uma tarefa muito difícil hoje em dia.
Sentido metafórico: Escrever bem é, hoje em dia, uma autêntica prova de esforço.
Mecanismos estilísticos como este são, sem dúvida, a maquilhagem do texto, que se quer bela, mas muito suave! Adornar o texto de forma equilibrada é, portanto, o sexto passo para o seu sucesso.
Escrever sem erros ortográficos ou gramaticais é um dos maiores desafios para quem escreve. Palavras mal escritas podem ser um autêntico atropelo à comunicação: podem causar equívocos, ambiguidades e trazer alguns dissabores. Se, por exemplo, escrever “Pedi ao banco o meu extracto descriminado”, em vez de “discriminado”, o que estará a dizer é que o extrato foi absolvido de um crime, pois descriminar é o oposto de incriminar! Nódoas linguísticas como “à pouco, à anos atrás, tu faltas-te à reunião, trás o guarda-chuva, eles vêm TV, ele interviu, houveram pessoas, aderência à greve, ir de encontro às expectativas, perca de tempo” são não só um embaraço a uma comunicação eficaz, como podem comprometer o seu sucesso profissional, arruinar a sua imagem e fazê-lo perder, em poucos segundos, a sua reputação e credibilidade.
E agora?
Guarde estas dicas num “estojo de primeiros-socorros linguísticos” e nunca se esqueça: Escrever bem é uma tarefa difícil, mas possível! A escolha certeira das palavras e a sua boa articulação contribuirão seguramente para que possa elevar a sua comunicação escrita a um nível de excelência, projetando uma imagem pessoal e profissional sempre credível.
Catedral de Notre Dame
(sujeita a um grande incêndio em 15-04-2019)Imagens RTP
Inácio Silva